Esta semana um artigo de Joel Neto no Expresso criou alguma polémica. Tão só porque colocou o dedo na ferida sobre a beleza, ou a falta dela, de Portugal. E a pergunta impõe-se: como é que um país tão dependente do turismo tem um território tão maltratado, que pode envergonhar até o cidadão mais patriota?.Começando por Lisboa, não se entende como uma cidade capital tem um espaço público tão abandonado. Como há tanto lixo nas ruas, como é possível ter tanto carros em cima de passeios, como temos tanta calçada esburacada, como se demora tanto tempo a limpar os graffiti, como é que o Rossio tem as fontes constantemente desligadas, como é que o castelo de São Jorge está às escuras desde 2017, como é que à volta da Torre de Belém não se resolve o assoreamento, o mesmo problema que existe há anos no Cais da Colunas?.São pormenores? Talvez. E não retiram totalmente a beleza à cidade. Mas alguém imagina a maioria das capitais europeias tão maltratadas como Lisboa? Nem em Atenas, considerada uma das capitais mais sujas e desorganizadas, a Acrópole está às escuras durante a noite. Em Madrid não há uma fonte desligada dia e noite. Em Amesterdão não se vê lixo nas ruas. Em Viena não se vê um carro em cima dos passeios. E sendo justo, estes não são problemas recentes, vêm de gestões camarárias anteriores..Mas Portugal está longe de ser apenas Lisboa. Como escreveu Joel Neto, há locais lindíssimos. Com excepção da capital, a maioria dos centros históricos das cidades e vilas portuguesas estão cuidados e bem preservados. Viana do Castelo, Guimarães, Chaves, Bragança, Guarda, Tomar, Óbidos, Sintra, Elvas, Évora, Castelo de Vide, Monsaraz, Mértola, Tavira... são alguns dos bons exemplos. Há muitos outros. E fora de muitos centros históricos há áreas profundamente belas como o Gerês, a Serra da Estrela, algumas áreas protegidas e algumas matas..O pior é quase tudo o resto. Com a excepção de boa parte do Alentejo e dos Açores, região do nosso Joel Neto, temos vindo a destruir o nosso território e o que temos a apresentar a quem nos visita (e a nós próprios) é bastante feio. Parte do Minho, boa parte das Beiras (a que erradamente chamamos Centro), boa parte do Ribatejo e Oeste e até as serras algarvias de Monchique e do Caldeirão são regiões que estão transformadas em gigantescas áreas de eucaliptal. Alguém gosta de olhar para uma paisagem sem floresta e que só vê eucaliptos?.Quando não são os inestéticos eucaliptos vemos terrenos abandonados, amontoados de sucata, muros de quintas inacabados ou de tijolos, bermas das estradas com lixo e ervas nunca cortadas. Basta visitar qualquer outro país europeu para se ver o cuidado com todo o espaço rural. Tudo limpo, muros pintados, estradas arranjadas e sem a falta de cuidado com o espaço público como se vê em Portugal..E depois temos as nossas aldeias. Tirando as aldeias históricas, sobretudo nas Beiras, e boa parte das aldeias alentejanas, destruímos quase tudo o resto. Uma casa de cada cor, telhados suíços, leões de louça nos portões, portas de alumínio, mármores partidos a servir de chão, carros parados nas bermas e em cima dos passeios... Mais uma vez, é comparar com as aldeias que existem em França, Bélgica, Alemanha, Itália....A boa notícia é que todos os erros que temos cometido nos últimos 100 anos, no que ao ordenamento do território diz respeito, podem ser revertidos. É possível acabar com os eucaliptos, deixando a sua produção ser feita apenas em três ou quatro distritos, substituindo-os por árvores autóctones. É possível começar a recuperar paulatinamente as nossas aldeias, com programas locais que podem e devem envolver a participação da população. É possível acabar com o lixo nas bermas das estradas, com os terrenos abandonados e ter políticas de ocupação do território de forma mais racional e positiva para os cidadãos que vivem nessas regiões..É algo que vai demorar anos, muitas décadas. Mas é urgente começar desde já a recuperar o nosso território. O urbano e o rural. E obrigado, Joel Neto, por teres colocado o dedo na ferida e lembrado quão importante é este tema. Só quem ama verdadeiramente Portugal consegue ter um olhar sério e crítico e quer ver a nossa terra substancialmente melhorada..Presidente do movimento Partido Democrata Europeu (O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)