Pequenas notas de um dia de fumo negro

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1.

O mundo vai ter de esperar pelo menos mais um dia pela eleição do novo papa. Ontem à tarde as televisões nacionais proporcionaram-nos umas boas horas a olhar para uma chaminé e para uma gaivota romana mais atrevida, enquanto os mesmos comentadores que discorrem sobre a campanha eleitoral, o Sistema Nacional de Saúde, o derby de sábado e os preços da habitação nos brindavam com pequenos ou vagos apontamentos sobre o que ninguém sabe. Ou seja, quem será o novo papa e quando vai ser escolhido. Está na cabeça e no voto de 133 cardeais, sob sequestro no Vaticano, que não costuma brincar com estas coisas. Valeu pela atitude da gaivota, mas sobretudo pela constatação de que a Igreja continua a ter uma enorme importância social e mediática.

2.

Mesmo com os portugueses em suspenso, a olhar para Roma, a campanha para as legislativas antecipadas de 18 de maio não perdeu muito gás. Pedro Nuno Santos, o homem que tem dificuldade em sorrir, alertou os portugueses para o eventual voto numa “laranja podre que pode contaminar todo o pomar”. É uma frase poderosa e o líder do PS bem precisa de frases poderosas - neste caso a alertar para os problemas éticos relacionadas com as empresas do primeiro-ministro. Porquê? Tal como Pedro Nuno sente dificuldade em esboçar um sorriso convincente aos eleitores, também os números não lhe estão a sorrir. A mais recente sondagem diária para o JN, a TSF e a TVI diz que se as eleições se fosse hoje o PS teria cerca de 26% dos votos, “o pior resultado em legislativas dos últimos 38 anos”, escreveu o Jornal de Notícias. E a AD já está a quase nove pontos percentuais (nos 34,9%).

AD e PS continuam, diariamente, a disputar o voto dos pensionistas - foi o que fizeram ambos, ontem em Évora - e a trocar acusações sobre o que fez um e outro enquanto estavam no poder. Estão ambos corretos, o voto dos pensionistas é fundamental. Mas a matemática parece favorecer Luís Montenegro. Porque tanto pode ir captar votos à ala mais social-democrata do PS, como pode ir busca-los à Iniciativa Liberal, ao Chega (veja-se o que disse sobre o repatriamento dos migrantes ilegais) ou aos indecisos. Quando Pedro Nuno Santos pede, como fez ontem,“uma concentração de votos no PS” de onde é que acha que eles vão sair? Do Bloco? Do PCP? Onde fica, então, a maioria de esquerda?

3.

A Índia e o Paquistão, duas potências nucleares, têm estado a trocar mísseis e obuses de artilharia pesada, numa escalada de violência de consequências imprevisíveis. Não é a primeira vez, nem sequer é raro. E pode terminar como começou, num ápice. Mas é mais um foco de instabilidade, a juntar-se à guerra na Ucrânia, ao conflito em Gaza, às novas políticas comerciais da administração Trump. Não há dúvida, o final de 2025, 2026 e seguintes serão anos desafiantes para as principais economias mundiais. Portugal e os portugueses terão de se preparar para uma recessão que aí vem.

Diário de Notícias
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