Os polícias do Chega querem meter-nos medo? 

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O  Governo de António Costa criou um problema com as remunerações das forças de segurança do país, que não soube resolver antes das eleições de 10 de março. Durante a campanha eleitoral Luís Montenegro criou a expetativa de que aceitaria o essencial das reivindicações de polícias, guardas republicanos e guardas prisionais e agora, que está no poder, só aceita parcialmente essas exigências.

Não é discutível este facto: os profissionais da PSP, GNR e da Guarda Prisional têm um esquema salarial de base, combinado com subsídios, prémios e gratificados, que é indigno e insuficiente.

Não é discutível este facto: à degradação provocada pelos baixos salários, junta-se a realidade da degradação da imagem pública de polícias e guardas, provocada por um criticismo constante às ações de repressão a que são chamados a intervir, mandados, bastas vezes, pelos mesmos que depois os reprovam.

Não é discutível este facto: muitas das críticas que se fazem às polícias são injustas ou descontextualizadas, mas ninguém pode negar que o crescimento, nos últimos anos, de uma mentalidade autoritária, racista, parafascista, classista, estupidamente violenta no seio das nossas forças de segurança está em níveis inaceitáveis.

Não é discutível este facto: é constantemente escamoteada a responsabilidade de dirigentes e políticos que, ao longo de dezenas de anos, semearam nas forças de segurança uma cultura securitária repressiva e não-democrática. Simultaneamente abusaram da boa vontade destes homens e mulheres e estão constantemente a enganá-los com promessas que não cumprem. Os frutos estão agora a ser colhidos.

Os polícias que amanhã aderirem ao apelo de André Ventura para fazerem um cerco, ou algo parecido com isso, à Assembleia da República estão a ser instrumentalizados pelo Chega não para, legitimamente, manifestarem a sua determinação em lutar pelos seus direitos mas, dado o tom com que esse apelo foi feito, para nos meterem medo e para criar um impasse político que supostamente beneficiará o próprio Chega.

Porém, os sindicatos que recusaram o “convite” do Chega tiveram a coragem de meter a cabeça no cepo, arriscando que a desilusão dos polícias e guardas com estes Governos, que estão sempre a falhar promessas, acabe por se transformar numa desilusão da maioria dessas classes profissionais contra os seus próprios sindicatos.

Agradeço a estes dirigentes sindicais, democratas, a bravura em recusar tal companhia para a sua luta. E agradeço esta sua fé de que as instituições saídas da Constituição criada com o 25 de Abril ainda nos podem salvar, a todos, do caos. Com eles, as forças de segurança poderão vir a ser realmente melhores - por favor, senhores políticos supostamente democratas, ajudem-nos a conseguir isso.

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