Os estágios profissionais criam jobs?

Publicado a
Atualizado a

Preparar os estágios. Não improvisar.

Uma empresa que quer receber estagiários, deve preparar-se para que o estágio seja de grande utilidade para o jovem e para que o trabalho que ele venha a realizar possa ser criativo e útil para a companhia. Em algumas boas empresas norte-americana, durante o estágio propõe-se que pense e aprofunde alguma ideia útil para a empresa. Antes do fim, cada jovem é convidado a fazer uma exposição das ideias que acha relevantes a um pequeno grupo de dirigentes, sempre na presença do CEO. Assim se abre um diálogo para entendê-las nos seus fundamentos e no seu alcance. Esta abordagem faz centrar o estagiário no conhecimento da empresa, nos seus pontos fortes e fracos.

Em Portugal, antes o número de empresas nacionalizadas era alto, em electricidade e gás, telefones e comunicações, caminhos de ferro, transportes, etc., e era mais comum encontrar-se estagiários.

Que tipo de preparação a empresa deve fazer para criar estas oportunidades que acrescentem valor? Importa que haja um responsável dedicado a esboçar como há-de ser: o processo de estágio, as matérias e as metodologias, apresentando os diferentes departamentos da empresa, o que neles se pode aprender e a utilidade que encontrará nessa experiência. É natural que o trabalho do responsável vá enriquecendo ao pensar no que faz e como fazer melhor.

É profícuo que cada estagiário tenha uma pessoa da empresa como o seu coach, orientador, amigo, a quem dirigir-se face a quaisquer dúvidas ou dificuldades que vão surgir. Ele terá o papel de integrar o estagiário, aconselhando a quem se dirigir na empresa, para temas de sua aprendizagem ou homologação de ideias criativas que ocorram. O coach deve ainda fazer conhecer e praticar as normas habituais de trabalho, sem criar choques ou mal-entendidos. Isso é um bom treino para o coach, que amadurece na orientação dos outros.

Os estágios ajudam a criar empregos?

Dos que iniciam um estágio, sempre há uma mão cheia que deixa boa impressão e que poderia fazer parte dos quadros da empresa. Mesmo que não se tivesse pensado em recrutar, se há uma boa oportunidade, talvez não se deva deixá-la passar, pois um talento faz sempre diferença numa organização.

É bom pensar que essa pessoa, mesmo não tendo lugar para já, poderá ficar como reserva para uma próxima necessidade. Entretanto, pensando mais um pouco, verificará que as análises de dados, o melhor conhecimento dos clientes, a exploração de novos setores e geografias, não se fizeram por não haver disponibilidade de pessoas.

Em muitos casos deverá criar-se um fundo para actualizar a estrutura da empresa ou proceder a novos estudos práticos ou trabalhos de R&D aplicados, que, em geral, são muito rentáveis e oportunos, usando os estagiários com capacidades operacionais.

Modernização da empresa e trabalho social

Qualquer organização vai envelhecendo e importa renová-la com ideias novas, novos modos de fazer, ou novas ferramentas baseadas em tecnologias inovadoras, que os dirigentes da empresa ainda não dominam, mas que a juventude tem toda a facilidade em utilizá-la. Pode mesmo , dar uma boa ajuda na modernização de certos aspetos do trabalho já implementado. Em muitas situações, paira a convicção de que a “nossa empresa já é suficientemente moderna e funciona com bons níveis de rentabilidade”… Será?

Uma empresa com estágios faz um trabalho social de treino de jovens para adquirirem habilidades práticas e disciplina de trabalho. E o estágio não é apenas válido para essa empresa: os efeitos podem ser aplicados a outras do mesmo setor de atividade.

A empresa que aceita estágios tem uma oportunidade única de identificar pessoas, com boa capacidade e valores que possam torná-lo interessante e fazer parte da equipa permanente da companhia. Durante o período experimental, muitos fatores de comportamento pessoal tornam-se evidentes. Portanto, pode-se ter uma ideia mais clara se o interesse e o entusiasmo são reais e estáveis.

Estágios em todas as empresas de certa dimensão.

Parece prudente e de bom senso que todas as empresas entrem no “jogo” de estágios, não de modo excecional, mas como uma prática rotineira, de gradual modernização da sua organização no contacto com as gerações mais novas, no aperfeiçoamento dos produtos e dos métodos de trabalho, dada a sensibilidade para as tecnologias, para o design, para a simplificação do trabalho, para a apresentação e empacotamento dos produtos, para a comunicação das características, etc. Todas estas tarefas podem ser continuamente melhoradas. Os estagiários, bem preparados no seu campo de estudos, poderão dar um forte impulso à empresa, desenvolvendo novos nichos de mercado, em alguns casos de boa rentabilidade.

É um dever social colaborar na criação de empregos. É uma questão difícil em qualquer lugar do mundo. Há uma criação de riqueza considerável, por vezes, com um número reduzido de colaboradores. Antes, um certo investimento originaria determinado número de empregos; contudo, muitas ferramentas tornam o trabalho fácil e rápido, e menos pessoas são necessárias do que as admitidas. Melhores resultados são facilmente alcançados. O princípio de que um determinado investimento criará um número considerável de empregos é cada vez menos verdadeiro.

Maior colaboração entre as grandes, medias, PME e as start-ups

Significa que os Ministérios relacionados com a criação de empregos devem dar atenção a isso: não basta apenas uma política de criação de postos de trabalho, mas devem ser sustentadas por coordenadas diferentes e convergentes que tornem a politica global mais eficaz. Pensava, como as PME são as que mais emprego criam por unidade de investimento, que as grandes e médias empresas deveriam ser incentivadas a criar pontes de colaboração com as PME espalhadas pelo país.

Na Índia, onde vivo há 8 anos, é chamativo o facto de que, no ano 2016, haveria menos de 5.000 start-ups e que em, 30 de junho de 2024, o número subiu para 140.000! Dessas, há mais de 110 com uma valorização superior a 1.000 milhões de dólares (os celebres unicórnios). Deve-se interpretar isso como havendo um fluxo real de novas ideias, que acrescentam muito valor, aportando maior eficiência ao trabalho, permitindo fazer mais em menos tempo e com menos custos. Não me admira que o número de start-ups em Portugal seja insignificante, mas ainda assim há muitas “cabeças” brilhantes a pensar bem.

As MSMEs deveriam merecer uma atenção muito especial, com apoios significativos, não só na sua criação, como na sua evolução. Importa que elas não estiolem logo à nascença e cresçam com pujança, criando jobs e riqueza.

As grandes e médias empresas não podem dormir nos louros do seu produto único e da sua rentabilidade. Devem antes pensar que estão como num oligopólio, protegidas por fortes barreiras de entrada, sobretudo de capital, onde outros atores gostariam de estar.

Elas devem ter a preocupação habitual de incorporar novas ideias, apoiando a criação ou aquisição de start-ups que ampliem o alcance do seu objeto de trabalho. Habitualmente, muito da inovação provem das ideias que as novas gerações podem entender e dominar mais facilmente, tanto no seu manuseio como na obtenção de maior eficiência no trabalho.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt