Um comentário em jornal, sobre a operação de salvamento dos jovens tailandeses presos numa gruta, protestava por os jornalistas terem sido afastados do local: "Injusto e falta de respeito por toda a ajuda internacional", escrevia um leitor. O comentário está errado. À hora em que escrevo só há quatro salvos e nove jovens ainda continuam aprisionados, mas o balanço sobre quem deu mais já é claro. Entre o mundo à volta a querer saber ou os presos da gruta, a balança pende claramente para estes últimos. Os treze tailandeses foram, de cabazada, quem deu mais..Sim, temos todos direito de saber o que se passa no mundo. Do trivial, como o resultado do Rússia-Croácia, ao dramático, como são os dias de miúdos surpreendidos numa gruta perigosa, que só podem ser salvos por mergulhadores experimentados a conduzirem-nos por canais e covas inundadas. A ambos, ao trivial e ao dramático, assistimos dos nossos sofás, o que é um direito legítimo. Mas já que o leitor se reclama da ajuda internacional que tem sido útil no salvamento dos jovens tailandeses, é importante lembrar a ajuda que os 13 nos têm dado..Um ponto a esclarecer: neste caso, o leitor e eu não temos sido generosos. Não demos nada de nós, isto é, desde que os 13 desapareceram, foram encontrados e começaram a ser salvos, nós, o leitor e eu, não ficámos privados de algo escasso e que nos teria sido útil caso não o tivéssemos oferecido aos miúdos tailandeses.Generosidade é sacrificar pelos outros aquilo que precisamos - olhem, é o que fez o mergulhador que morreu ao levar mantimentos para a gruta. Se esses que se sacrificam precisam de todas as condições para o seu ato generoso - por exemplo, terem a área de salvamento controlada -, é impudico que eu e o leitor, em nome do nosso direito a saber no sofá, protestemos..O que eu e o leitor temos sido não é generosos, é compassivos. E isso é bom. Muito bom. Com tanto drama lido de forma ideológica, um bebé morto de borco numa praia já é só uma fotografia. Precisávamos de gente que fosse gente e em 13 rapazes que sonhavam ser Messi e se descobriram numa gruta armadilhada, noite todo o dia, sem comer e com a lama a subir, descobrimos a possibilidade de salvação deles. E isso comoveu-nos. Eis o que os miúdos tailandeses nos deram: sentirmo-nos bons. Bom mesmo era sermos generosos. Mas termos compaixão, nos tempos que correm, já não é mau.