É a educar que se muda hábitos
Não é função do Estado dizer ao povo o que ele pode comer. Em primeiro lugar, pelo paternalismo implícito - e errado - de que o Estado é mais competente para decidir o que pomos no prato do que qualquer um de nós. Mas também porque há muito pouca nobreza nos motivos reais - raramente comparáveis à sempre enunciada necessidade de nos fazer mais saudáveis.
Há um ano, o governo criou a chamada fat tax com o mesmo argumento com que, no último orçamento, pretendia introduzir uma barreira fiscal aos produtos com mais sal das prateleiras do supermercado (batatas fritas, bolachas, cereais...). A saúde dos portugueses assim o exigia - e afinal esse mesmo caminho tinha sido seguido por muitos outros países. Os efeitos? Depois de um ano de aplicação, consumimos menos 5% de bebidas açucaradas - irrelevante, é verdade, mas para os cofres do Estado esse novo imposto significou cerca de 70 milhões de euros a mais. Por outro lado, diz o setor, a lei potenciou seriamente a importação ilegal de refrigerantes - e eu imagino logo carros de família a deitar por fora garrafas de Fanta e latas de Coca-Cola compradas num mercado clandestino em Espanha para vender com uma generosa margem na mercearia da aldeia.
Adiante, que o assunto que aqui importa é a fat tax e a aparente bipolaridade de quem a criou. É que se o governo foi intransigente na sua luta contra o açúcar, o sal, causador de problemas sérios como os AVC, continua a escapar ao imposto dissuasor. E o tabaco, que todos sabemos ser razão de muitos problemas cancerígenos, ficou mais caro e até ganhou umas imagens supostamente chocantes, mas ficou bem longe dos preços proibitivos que se praticam mesmo aqui do outro lado da fronteira. E para o álcool, claro, nem se fala em aumentos, não fôssemos nós um produtor de vinhos de excelência. Parece, portanto, que a coisa foi feita apenas para manter aparências e, de caminho, ir buscar mais uns euros para fazer face à despesa. Quanto à saúde dos portugueses, não se vê que tenha lucrado grande coisa com esta fat tax.