O título desta crónica poderá fazer lembrar, a muitos, a designação de um clássico de Hollywood, qualquer coisa como o Regresso de Dark Vader, o Lado Negro da Força. Todavia, estamos simplesmente perante mais uma eleição democrática na primeira e única república imperial do planeta Terra, os Estados Unidos da América..De facto, sobretudo na Europa, com a escalada do conflito israelo-palestiniano, após o inominável ataque do Hamas e seus aliados, com a continuação da agressão russa à Ucrânia e a tensão crescente nos mares da China e das Coreias, muitos temem o provável regresso de Trump..Porém, não deixa de ser curioso que foi com presidentes democratas que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2014 e 2022, reforçando os laços com o Irão, a Síria e a Líbia, ou que, mas não menos importante, o Hamas atacou Israel em 2023, já para não falar do abandono sem honra do Afeganistão..Ou seja, durante o mandato de Trump, a situação internacional manteve-se mais estável e com menos contestação da hegemonia americana. Avançando mesmo com os acordos de Abraão para tentar pacificar o Médio Oriente, um trunfo que poderá usar na campanha eleitoral..É certo que muitos não acreditam na reeleição de Trump, pois identificam o fenómeno com o arrivismo sempre presente em certos momentos da democracia americana, rapidamente reabsorvido, após o respetivo fecho de ciclo político ou, desvalorizando, veem nesta hipótese de reeleição, apenas a réplica do populismo que grassa um pouco por todo o mundo..A verdade é que, para lá da imagem iconográfica do ex. presidente republicano, para além da sua aparente imagem de transgressão face ao sistema instalado, Trump e o trumpismo evidenciam a cisão mais perigosa em política: entre os que estão em acima e os que estão em baixo na escala socioeconómica..Ora, são precisamente muitos dos que estão em baixo que encontraram em Trump uma voz para expressar a sua indignação contra o desprezo das supostas elites que têm governado através do dito sistema (ele próprio assumiu - eu sou a vossa voz - no seu discurso de nomeação como candidato em 2016) o que não deixa de ser um paradoxo se atendermos a que estamos face a alguém que nasceu milionário e se tem dedicado a negócios ruinosos, em linha com o capitalismo mais selvagem, e é hoje apoiado por algumas grandes tecnológicas, que tanto emprego destroem..O seu discurso público tem consistido em atacar ou ridicularizar uma vasta plêiade de outros: muçulmanos, hispânicos, chineses, mexicanos, europeus, imigrantes, refugiados ou mulheres, os quais descreve como ameaças ou objeto de escárnio..A sua grande força e, simultaneamente, o seu perigo face aos republicanos tradicionais, como já se viu no seu mandato anterior, resulta de ter a simpatia da rua, o primado da multidão, no fundo, aquilo que os pais fundadores da república americana mais temiam e Alexis de Tocqueville tão bem identificou: as paixões populares desembestadas..Em suma, goste-se ou não, a verdade é que poderemos ter de conviver durante mais quatro anos com uma agenda disruptiva, nostálgica-revolucionária, símbolo dos tempos de hoje: o universo fugaz do online, do domínio das redes sociais, do reino do entretenimento, da simplificação consumista, da ansiedade tecnológica, da rejeição da diferença, no fundo, o fim do pensamento e a vitória da pura ação..Advogado