Acabados de sair de mais umas eleições europeias e eis que todos se entretém a vaticinar acerca do futuro da Europa. Ora, a não ser que por qualquer razão ainda desconhecida o mundo acabe, a Europa terá sempre um futuro. Com mais imigrantes, com mais polarização política, com mais guerra, mas terá sempre um futuro. Este, todavia, como dizia o saudoso Karl Popper, continuará sempre em aberto..O problema da Europa, porém, é querer sempre inventar, construir um futuro. Nunca lhe bastando que este seja a continuação do passado, ainda que apenas melhorado. E como a política é a arte da promessa, lá nos acenam com uma esperança renovada na nova legislatura do Parlamento Europeu, bem como novos dirigentes, ainda que alguns repetidos e escolhidos quase em segredo, optando quase sempre pelo mal menor..Acontece que a escolha recorrente de líderes fracos, sem carisma para as instituições europeias não tem ajudado a fortalecer a Europa no Mundo e é o espelho do pouco interesse, da falta de vontade política, dos diversos governos nacionais no fortalecimento da União. E se, em velocidade de cruzeiro, tais escolhas não são muito graves, em caso de crise ou ameaça externa, como a que vivemos atualmente, a falta de capacidade de liderança e peso político internacional, poderão tornar-se fatais para o nosso destino comum..Pensava-se que, depois da crise de 2008-2012, os políticos europeus deixariam de fazer promessas de melhoria contínua da vida dos cidadãos, para passar a defender a solvabilidade dos seus Estados, sustentando desse modo o que até então tinha sido adquirido pelos mesmos. Manter, reabilitar, reconstruir, ainda que fazendo uso de novas formas, ou seja, não deixar destruir o existente, deveriam ter passado a ser as palavras-chave da mensagem política..Mas afinal, em cada nova eleição, aparecem sempre os vendedores de sonhos, os defensores da hora da utopia, os arautos que fazem promessas da famosa alternativa que voltará a trazer o paraíso à terra, os mesmos que, do alto do seu pelourinho ideológico, fazem acreditar que têm uma solução que mudará o mundo..Será por isso fundamental que o discurso político europeu, saído de mais esta eleição, não seja assim encarado, isto é, não se entenda como mais um conto infantil, qual narrativa encantatória, onde os cidadãos europeus são tratados como crianças a quem é preciso fazer sonhar e não cidadãos a quem se oferecem soluções razoáveis e realizáveis e a quem, por sua vez, se possa exigir uma cidadania informada e responsável. Haja realismo e bom senso. A política europeia precisa de confiança, não se sustentando apenas com promessas se curto prazo. Alimenta-se de factos, alimenta-se de medidas estruturais, num quadro mundial cada vez mais assimétrico, ameaçador e exigente..Essa confiança, esse clima, esse ambiente, esse ecossistema económico e social, como agora se se diz, não se alcançam apenas com sonhos e utopias, com manifestos contra as empresas e o capital, com proclamações contra a globalização. Pelo contrário, como se tem visto em França, esse discurso só alimenta o extremismo autoritário que, a prazo, apenas trará miséria ao solo europeu..Em suma, não poderemos saber o que o futuro nos reserva, quanto mais como será a Europa daqui a uns anos ou décadas. Por essa altura, o mundo já terá testemunhado a passagem de bandos sucessivos de cisnes negros. Ainda assim, se esse futuro não for pior que o presente, já nos poderá deixar tranquilos..*Advogado, Presidente do Movimento Europeu em Portugal