O Dia dos Namorados devia convidar-nos a reflectir sobre questões menos românticas, como a violência no namoro..Dados estatísticos recentes revelam uma realidade preocupante. Apesar de em Portugal, não ter havido um aumento do número de casos estatisticamente identificados de violência no namoro, são cada vez mais as pessoas que pedem ajuda através das entidades competentes. É alarmante que em 2023 tenham sido participados 30279 crimes e ocorrido 22 homicídios em contexto de relações amorosas..Os casos de agressões físicas, emocionais e sexuais dentro dos relacionamentos amorosos têm aumentado constantemente, desafiando a ideia de que o namoro é um período de harmonia e respeito mútuo. Não há presente que faça desaparecer as mazelas das agressões físicas ou psicológicas que as vítimas, na sua maioria mulheres, sofrem..Em Portugal, as mulheres são a esmagadora maioria das vítimas de violência. E a situação não é exclusiva de Portugal. Em toda a União Europeia e no mundo, os índices de violência no namoro estão em ascensão, destacando a necessidade urgente de enfrentar esse problema de forma sistemática e eficaz..Podemos questionar o que tem levado a esse crescimento preocupante dos comportamentos agressivos no namoro. Para fazer essa análise, importa ter em conta os retrocessos sociais e civilizacionais: banaliza-se a violência, a exposição dos jovens a conteúdos de pornografia nas redes sociais ou a facilidade no uso de recursos como a Internet para perseguir, ameaçar, controlar ou humilhar, muitas vezes como retaliação..Para combater e erradicar este flagelo social, são necessárias medidas concretas que previnam as situações de violência no namoro, de assédio moral e sexual, particularmente das jovens, dando particular atenção à promoção dos valores da igualdade entre mulheres e homens e ao respeito pelos direitos e dignidade das mulheres. Desde logo a urgência de medidas concretas de informação e sensibilização, em diversos domínios que, de forma conjugada, contribuam para a necessária prevenção..Tal como o PCP tem vindo a preconizar na sua intervenção, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, é urgente reforçar os serviços públicos com os meios materiais e humanos adequados e com a formação necessária, no SNS, nas forças e serviços de segurança, nas autoridades judiciárias. É urgente assegurar com eficácia medidas de prevenção da violência (no namoro, na família, na sociedade), em que a Escola Pública tem um papel insubstituível, desde logo como instrumento fundamental para a detecção e sinalização da violência entre pares, da exposição de alunos a contextos violentos, designadamente familiares e para dar novas respostas que contribuam para os valores da igualdade de direitos entre mulheres e homens..É urgente que se assegure a aplicação eficaz das medidas de protecção das vítimas e apoio psicológico a todas as vítimas durante a integralidade do processo, incluindo no momento da denúncia, nas situações em que haja a necessidade de acolhimento em casa abrigo ou não, nos diferentes momentos de tomada de decisão, em todas as fases do processo judicial caso se verifique, no início de uma nova vida..As desigualdades entre mulheres e homens, que ainda persistem, são também uma forma de violência, ignorada e desvalorizada, também do ponto de vista judicial. É essencial que estejamos conscientes da realidade sombria que muitas mulheres enfrentam..O PCP tem exigido e procurado fortalecer e melhorar um conjunto de direitos que são necessários, quer perante a violência, quer no trabalho, quer nas funções sociais do Estado..Porque se há algo que a vida demonstra é que o combate eficaz a este flagelo depende sobretudo da eficácia dos vários mecanismos legais quanto à prevenção, acompanhamento e erradicação da violência, bem como equipas multidisciplinares nos tribunais de apoio às vítimas, de formação de profissionais, de aposta nos currículos escolares para prevenir e impedir modelos de reprodução de violência no namoro e no seio das famílias..Não podemos escolher o silêncio perante uma tragédia que a cada dia soma mais vítimas. Mais do que boas intenções, flores ou palavras amáveis, o que é fundamental, neste e em todos os dias, são acções concretas e os meios adequados para as concretizar e pôr em prática..Só desta forma, intervindo com meios para erradicar as causas, conseguiremos trilhar um caminho verdadeiramente viável para a erradicação da violência sobre as mulheres e para a efectivação da igualdade entre mulheres e homens, na lei, na vida e em todos os domínios da sociedade..*Deputada do PCP no Parlamento Europeu