Em 2020, em pleno confinamento a propósito da pandemia, escrevi que ainda que se fechassem as portas, era importante abrirem-se janelas. Quando o escrevi, parecia-me evidente que ao estarmos a viver algo sem precedentes na história recente, certamente existiriam impactos no mundo, como o víamos e como o vivíamos. Falo de alterações ao nível dos negócios, e consequentemente das empresas e certamente com impacto na economia e na sociedade. Estava longe de antever os diferentes acontecimentos que se seguiram e já demais identificados e explicados, nomeadamente: os conflitos geopolíticos, as disrupções nas cadeias logísticas, e a subida dos preços dos bens e serviços. Estes acontecimentos surgem a par de uma adoção acelerada de novas tecnologias, em particular da digitalização, das ferramentas de comunicação à distância e da inteligência artificial generativa. Não estou a dizer nada de novo. Mas quem tem estado a observar “pelas janelas de atenção” abertas em 2020, não tem dúvidas das grandes alterações que se verificaram desde então. Refiro-me a alterações nos formatos de trabalhos nas organizações, nas estratégias de negócio com impacto na escolha das cadeias de abastecimento e nas geografias de atividade, a alterações nos formatos de interação social e a alterações nas necessidades de aprendizagem. A vivência destes eventos também nos mudou. E até comentamos as mudanças na capacidade de atenção ou o potencial nas comunicações à distância para chegar onde era difícil até então, ou até o tanto que temos disponível atualmente e tão rapidamente através das tecnologias de informação. Aqui chego ao meu ponto de alerta. Perante a evidência de cinco anos de transformação em tantos níveis da nossa vida pessoal, social e profissional, como estamos a olhar e a trabalhar a educação? Como estamos a desenvolver ou como sentimos necessidade de desenvolver as nossas crianças, os nossos adolescentes, os nossos jovens e os nossos adultos, num mundo que está diferente? Quais são os valores que indiscutivelmente queremos transmitir? Quais são as ferramentas e as aprendizagens que as pessoas terão de ter em 10 e 20 anos? E quais são as ferramentas, os conhecimentos e a pedagogia que temos hoje e que nos permitiriam oferecer um desenvolvimento pessoal mais completo e mais adequado?Sei que temos em Portugal e no mundo os conhecimentos suficientes, as ferramentas adequadas e os especialistas em pedagogia para desenvolver o que é necessário nos diferentes ciclos de ensino. Este não é o tema. O tema é, o que estamos a fazer e se os estamos a fazer com a urgência necessária. Os ciclos de estudo são longos (entre 2 e 6 anos). Os ciclos políticos e os mandatos dos conselhos de gestão ou reitorais, são demasiado curtos para se conseguir assistir ao impacto de mudanças. A mudança não será feita, no curto prazo, por políticas públicas. Será bom se as mesmas não bloquearem os processos de evolução.A mudança acontecerá ao nível de cada instituição de ensino, com iniciativas e projetos bem pensados e desenhados. O foco deve estar na preparação que queremos nos jovens e adultos em 10 e 20 anos e em como o conseguiremos, sabendo as suas capacidades atuais e todo o seu potencial de desenvolvimento, recorrendo ao conhecimento e ferramentas que temos disponíveis. Não se trata de sonhar ou definir estratégias, trata-se de planear e executar. As nossas crianças, os nossos jovens e todos nós merecemos e precisamos de uma adequada educação. Façamo-lo! Hoje, já é tarde … *Docente na Católica Porto Business School e membro do EQUIS Board da EFMD