Não podemos perder a oportunidade de entrar o negócio do lítio, mas não o queremos explorar e não nos pomos na posição de exportadores. Dispensamos esse tipo de produção, mas não a capacidade de refinação do lítio que possamos vir a importar de quem não se importe de o recolher noutras paragens. São assim simplificadas as declarações do ministro do Ambiente, que revelam bem a dicotomia que se vive por cá - e que demasiado frequentemente dá origem a decisões incompreensíveis e de efeitos questionáveis, como a penalização fiscal dos veículos híbridos abaixo de determinado nível de eficiência energética, que em vez de proteger o ambiente acaba por incentivar a compra de motores a combustível..A questão é simples: a Europa, com Portugal na primeira linha, quer eletrificar a sua energia para caminhar no sentido de níveis de emissões cada vez menores. Para isso, é necessário investir em fontes renováveis, mas também em baterias que permitam a sua armazenagem - para as quais o lítio, que Portugal tem em grandes quantidades, é uma matéria-prima essencial. Explorar essas reservas é ambientalmente questionável, mas não temos problema nenhum em trabalhar essa matéria-prima desde que venha de longe, de onde não vemos os custos ambientais da mineração - ninguém quer uma pedreira a céu aberto no seu quintal. E em ano de autárquicas, ainda menos se admite tomar uma decisão dessas..E assim, em vez de estarmos a trabalhar em soluções que permitissem mitigar os efeitos da exploração de lítio no país e a investir em soluções de transformação de primeira água, que fizessem de Portugal um ator principal de uma indústria capaz de transformar a mobilidade europeia nas próximas décadas, em vez de assumirmos a aposta e tomarmos a liderança, assegurando, naturalmente, as medidas compensatórias necessárias, perdemo-nos no debate sobre uma utilização secundária, cujo efeito será sermos ultrapassados por quem ofereça a solução completa, mais barata e mais à mão para toda a Europa..Temos hoje empresas disponíveis e capazes de fazer os investimentos para o país responder à vontade e às necessidades europeias de um consumo energético mais limpo, assegurando uma indústria de ponta - o que implica muito investimento a entrar, muitos postos de trabalho criados, evolução tecnológica, formação e adaptação de carreiras, por exemplo, para milhares de pessoas que vão deixar de ter trabalho nas refinarias de Matosinhos e Sines. Se não soubermos aproveitar mais esta oportunidade, ficaremos uma vez mais para trás..Não se trata de aceitar qualquer coisa a qualquer custo, mas de controlar as condições e trabalhar desde já as contrapartidas, assegurando que a evolução chega e nos nossos termos. Este é o momento de agir para pôr Portugal na dianteira