Land of the free, home of the brave

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A escolha do título deste artigo não é inocente, uma vez que representa o terceiro verso do hino nacional americano. Chegou ao fim uma campanha eleitoral altamente atribulada, que deixou a nu várias das fragilidades da maior potência mundial.

Hoje decorrem aquelas que são já consideradas as eleições presidenciais com maior afluência às urnas, pelo menos de acordo com o voto antecipado. Para todos os eleitores, observadores e comentadores – americanos e outros espalhados pelo resto do mundo –, o que está em causa é assegurar que a América permanece a “Terra dos Homens Livres, e o Lar dos Homens Bravos” (numa tradução livre e em sentido lato).

Diz o provérbio popular que “para lá do Marão, mandam os que lá estão” e esse é uma espécie de princípio que não deve passar despercebido à maioria dos cidadãos não americanos. Nos Estados Unidos mandam os 50 estados que os compõem, portanto, todo um continente com cerca de 341 milhões de pessoas e uma heterogeneidade muito saliente.

Como declaração de interesses, obviamente votaria (provavelmente, como a maioria dos Europeus moderados) azul, seja por convicção, crença ou pela enorme transformação do elefante vermelho, que hoje está longe e perdido da sua origem. Essa desorientação é, inclusivamente, responsável por vários líderes históricos republicanos apoiarem a dupla Harris/ Walz.

Apesar da melhoria dos indicadores económicos na sua globalidade, aliados à criação de emprego durante a administração Biden/ Harris, o impacto da realidade recente não deixa de ser sentida por todos os americanos e pelo resto do mundo: o generalizado aumento dos preços e a inflação, que, apesar de já estar mais controlada, ainda provoca muitos danos colaterais.

Por outro lado, se há dificuldade em fazer circular informação entre 11 milhões de pessoas, imagine-se entre 341 milhões. A esta complicação acresce outra que surge a cada eleição presidencial americana: o modelo do sistema eleitoral. Eleição após eleição discute-se o resultado apenas em alguns estados-chave, uma vez que face ao sistema maioritário (do “winner takes all”), à partida, há locais pré-determinados como sendo Republicanos ou Democratas.

Sobrando os Estados “pendulares”, que se situam em cinturas, por exemplo, de ferrugem (no Midwest, junto à fronteira com o Canadá) em zonas onde no passado a grande produção industrial tinha lugar, mas que no presente estão em declínio e por isso mesmo se denominam “enferrujados”.

Debaixo da mesma nomenclatura estão também os estados da cintura do sol. Esses compreendem os estados em grande desenvolvimento na industria e tecnologia, após a terceira revolução industrial. Esta cintura abraça as geografias mais ao sul, desde a Virgínia à Florida, atravessando o continente até ao sul da Califórnia.

Resumindo, torna-se naturalmente complexo a existência de um sistema eleitoral que elege uma pessoa para governar uma nação com 341 milhões de pessoas. Mais ainda quando se trata da maior economia do mundo “ocidental”, charneira para esse mesmo eixo do globo, independentemente da vontade de alguns em tentar boicotar o seu sucesso através do corte de importações.

Hoje far-se-á história e tal não dependerá do resultado das eleições. Caso Trump seja eleito, será um desafio para os parceiros históricos da América, ou seja, a nossa Europa. Por outro prisma, essa hipotética eleição também desafiará a manutenção da ordem a nível interno. Caso Harris seja a escolhida, o que se deseja, o principal repto cairá sobre a manutenção da paz e do multilateralismo a nível internacional e a nível interno. Que a escolha seja feita com civismo e de forma exemplar para o mundo inteiro.

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