“As melhores decisões geralmente são tomadas com dados e evidência, não apenas com intuições” Jim Simons (Matemático, investidor e bilionário,1938-2024) Passados dois anos desde o fim da pandemia de COVID-19, é crucial avaliar o impacto deste evento global. Os dados oficiais disponíveis caraterizam a dimensão da crise e fundamentam estratégias futuras. Uma duração inesperada e seus efeitosA primeira grande constatação foi a duração inesperada da pandemia, que se estendeu por 1.150 dias — de 11 de Março de 2020 a 5 de Maio de 2023. Um período excessivamente longo que favoreceu, sobretudo na fase final, fenómenos de saturação e de desvalorização. Fortalecer a confiança nas oficias e científicas é um imperativo que exige uma comunicação suportada em evidência. Impacto na saúde e no Serviço Nacional de SaúdeEm Portugal, o impacto da pandemia foi determinante. O primeiro óbito ocorreu em 16 de Março de 2020, e até 5 de Maio de 2023 verificaram-se 26.655 mortes. A integração na União Europeia, permitiu que a vacinação se iniciasse a 27 de Dezembro de 2020, com recordes mundiais de cobertura vacinal em Setembro de 2021. Vários estudos confirmaram a segurança e a utilidade das vacinas, com a atribuição, em 2023, do Prémio Nobel da Medicina à tecnologia de RNA mensageiro.Não há pandemia sem acréscimo de mortalidade e em 2020, 2021 e 2022 a mortalidade absoluta anual ultrapassou as 1.200 mortes por 100.000 habitantes, o valor mais alto em Portugal desde 1957. O período mais crítico para o Serviço Nacional de Saúde ocorreu entre Dezembro de 2020 e Fevereiro de 2021. Durante 37 dias consecutivos, mais de 4.000 camas hospitalares estiveram ocupadas diariamente e durante 39 dias mais de 600 camas de cuidados intensivos foram usadas todos os dias, com o pico de 904 camas de intensivos a 4 de Fevereiro de 2021. Estes valores ultrapassaram a capacidade instalada prévia à pandemia de cerca de 600 camas de cuidados intensivos. Neste período, verificaram-se 20 dias com mais de 200 mortes diárias e em 8 dias, todos em Janeiro de 2021, mais de 270 mortes diárias, com 297 óbitos a 30 de Janeiro de 2021. Perante esta realidade devastadora, o último confinamento foi decretado a 15 de Janeiro de 2021, inicialmente com as escolas abertas e que tiveram de ser encerradas a 22 de Janeiro de 2021. Estes dados corroboram que o pior mês da pandemia foi Janeiro de 2021 com 19.668 óbitos por todas as causas, o valor mais elevado desde o longínquo ano de 1919. Uma das pandemias mais mortais desde o último séculoA pandemia de COVID-19 confirmou-se como uma das mais letais desde o século passado, onde se inclui a pandemia de “gripe espanhola” de 1918-1919. Os números não enganam: a pandemia de COVID-19 foi uma tragédia ímpar na história recente de Portugal e da Humanidade.