Haddad tachado
Lula da Silva foi chamado "Luladrão", pela direita, depois de ter sido preso, em 2018, no Lava Jato. Em 1989, entretanto, a alcunha do presidente do Brasil era outra: derrotado na primeira volta das Presidenciais, Leonel Brizola, também de esquerda, pediu aos seus eleitores para votarem Lula na segunda e, desse modo, engolir o “sapo barbudo”.
Já o hoje vice-presidente Geraldo Alckmin, por uma suposta falta de carisma, é conhecido por “picolé de chuchu”, uma vez que os picolés, sorvetes, se querem doces e o chuchu é o mais sensaborão dos legumes.
Jair Bolsonaro convive há anos com a alcunha "Bozo", palhaço norte-americano. E, ocasionalmente, é apelidado de BolsoNero, numa associação com o pirómano imperador romano, ou de “genocida”, por ter deixado o povo à mercê da pandemia.
Antes de Bolsonaro, o presidente Michel Temer era o “mordomo de filme de terror”, epíteto dado por Antônio Carlos Magalhães, influente e irascível político baiano apelidado, por isso, de “Toninho Malvadeza”.
E “Viajando Henrique Cardoso”, cognome de Fernando Henrique Cardoso por ter feito 108 viagens internacionais em oito anos de mandato, sucedeu a Itamar Franco, o "Devagar Franco", por causa do sotaque, pausado, de Minas Gerais e do comportamento, demorado, em conferências de imprensa.
Pois agora, nasceu "Taxadd", a alcunha de Fernando Haddad, o ministro da Economia do Brasil e eventual sucessor de Lula, caso o atual presidente dê uma de Biden até 2026.
Num meme reproduzido na Times Square, Haddad surgiu como “taxa humana”, numa alusão a Tocha Humana, herói da Marvel. Noutro jurava-se que seria ele a transportar a “taxa olímpica” nos Jogos Olímpicos de Paris.
Chamado de "Taxarel", numa piada com Taffarel, lendário guarda-redes brasileiro, Haddad aparece em posters de filmes, como Taxe Driver, e de novelas, como Entre Taxas e Beijos. E, de cocar na cabeça, como o grande cacique indígena da “tribo tando”.
Fã assumido dos Beatles, o ministro da Economia aprecia sobretudo Taxman, de George Harrison, diz mais um meme.
Segundo empresas de monitoramento das redes, o Taxadd até pode ter nascido à direita, mas foi adotado pela esquerda e disseminou-se como “um movimento espontâneo”.
Ainda segundo esses observadores, a culpa foi da decisão de taxar compras inferiores a cerca de dez euros em sites chineses a partir de quinta-feira, 1 de agosto, prejudicando o bolso dos mais pobres para beneficiar os dos grandes industriais brasileiros.
“Taxando pobre adoidado”, lia-se em mais um meme, em referência ao filme Curtindo a Vida Adoidado, no Brasil, ou O Rei dos Gazeteiros, em Portugal.
Como se sabe, o “sapo barbudo” acabou eleito, em 2002, e reeleito, em 2006, com essa alcunha e, novamente eleito, em 2022, já depois de ser Luladrão e o Bozo, mesmo inelegível e acusado de roubar joias, segue com a popularidade em alta - ou seja, as alcunhas não são certidões de óbito para os políticos mais carismáticos, longe disso, que o digam tantos outros, a começar pelo Bochechas português.
Mas a Haddad, que, depois de eleito prefeito de São Paulo em 2012, perdeu a reeleição, em 2016, a Presidencial, em 2018, e a corrida ao Governo de São Paulo, em 2022, não dá muito jeito ser tachado.