Espanha, a esquerda e os tribunais
A esquerda está à beira de um ataque de nervos, e não é para menos. Como se não bastasse a TDS (Trump Derangement Syndrome) que, só por si, já seria maleita para comprometer o juízo de qualquer um, vêm também da Europa e do resto do mundo profusos sinais de reacção popular ao globalismo e aos delírios wokistas das vanguardas radicais.
Ora, em tempos de desespero é sabido que se recorre a tudo e já sem grandes preocupações de guardar as aparências. Foi assim na Roménia onde, sob pretextos risíveis, o Tribunal Constitucional anulou a eleição de Dezembro. A eleição está agora marcada para Maio - 4 de Maio a primeira volta e 18 de Maio a segunda - e tudo indica que o independente Călin Georgescu, que em Dezembro teve 23% dos votos, terá, desta vez, 40%. Isto segundo o insuspeito Politico.
O recurso aos tribunais para anular decisões e escolhas políticas que apresentem sintomas “populistas” parece ser agora o protocolo de emergência adoptado. Foi usado contra Trump, foi usado na Roménia e ameaça ser usado contra Marine Le Pen.
Mas os tribunais nem sempre são bons. No dia 16 de Abril, a associação cívica espanhola Manos Limpias recorreu à figura da “acção popular” para denunciar Begoña Gomez, a mulher do chefe do governo Pedro Sánchez, por tráfico de influências a favor de Carlos Barrabés, seu colega na Escuela de Gobierno da Universidade Complutense de Madrid. Entre 2017 e 2024, a Inova Next, empresa de Barrabés, recebeu contratos públicos no valor de cerca de 23 milhões de euros; e a suspeita da Manos Limpias, suportada por vários indícios, é de que cerca de metade desses contratos tenham sido firmados por favor político.
Perante a denúncia, Sánchez disse que ia reflectir sobre se continuava ou não como primeiro-ministro… Reflectiu e continuou. Begoña Gomez compareceu no tribunal, mas recusou-se a prestar declarações; o juiz Juan Carlos Peinado chamou Pedro Sánchez como testemunha, mas Sánchez também se escusou a declarações. Por sua vez, Sánchez e Begoña interpuseram uma acção contra o juiz, mas o Ministério Público, confirmado pelo Tribunal Superior Judicial de Madrid, negou-lhes procedência.
A Manos Limpias denunciou também o irmão do chefe do Governo, David Sánchez, de ser beneficiário de um lugar especificamente criado para ele na Diputación de Badajoz, na Extremadura governada pelo PSOE. A acusação diz que David Sánchez nunca compareceu na “Oficina de Artes Escénicas” e a juíza do Tribunal de Badajoz encontrou “indícios racionais de criminalidade” para que se abrisse o processo. Num interrogatório patético que se tornou viral nas redes sociais, o irmão do chefe do governo do PSOE não foi sequer capaz de dizer onde era o “seu” local de trabalho.
Para responder à “cabala”, ou seja, para abafar estes processos embaraçosos para Sánchez, o governo e o PSOE vão propor ao Parlamento uma lei para combater “acções judiciais abusivas” de “sectores extremistas e de extrema-direita”. A lei, a ser aprovada, limita radicalmente a chamada “acção popular” e é aplicável… aos processos em curso.
Entretanto, Sánchez avança com as comemorações da morte de Franco e dos 50 anos da democracia, agitando a habitual bandeira anti-fascista para desviar as atenções.
Politólogo e escritor
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia