E se formos mesmo mais inteligentes?

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Ao final do dia de ontem, duas gigantes tecnológicas anunciaram um mega acordo para continuar a construir modelos de Inteligência Artifical. Nvidia e OpenAI, importantes empresas norte-americanas, reafirmaram aquilo que é entendimento dos vários especialistas, empresários, investidores e consultores: a inteligência artificial vai dominar os próximos anos em toda a linha da nossa existência, da economia à sociedade, e portanto temos de colocar todas as fichas naquela que é a possibilidade de construir uma superinteligência. O que será possível fazer com ela, “não podemos imaginar”, admite o CEO da OpenAI.

Na verdade, aquilo que eventualmente assusta qualquer pessoa que tente pensar um bocadinho sobre o assunto, é precisamente esta incerteza sobre o que será capaz de fazer uma inteligência criada pelo homem, desprovida de sentimentos, que se alimenta de conhecimento adquirido e o transforma em mais conhecimento. Será que, no final, nos vai suplantar e destruir? Será que vai ganhar vida própria e conquistar o mundo? A verdade é que ninguém sabe, e como tudo o que desconhecemos, tememos. O que sabemos é que há modelos que funcionam melhor do que outros; que a IA já é fundamental para muitas das nossas tarefas do dia-a-dia e que nos liberta de muitas funções que não exigem criatividade. Mas, numa altura em que estes mesmos empresários, consultores e investidores também falam de escassez de recursos humanos que cumpram os requisitos que consideram necessários – geralmente falam de soft skills, ou aquilo que chamamos de competências emocionais – não deixa de ser curioso que não paremos para pensar, pelo menos durante um momento, naquilo que pode continuar a diferenciar-nos da tal superinteligência artificial. Uma superinteligência emocional, que nos faça ser mais empáticos, mais criativos e mais seguros das nossas capacidades únicas enquanto humanos, era realmente algo de que podíamos fazer uso imediatamente.

Porque se há algo de que precisamos urgentemente é desta capacidade de nos colocarmos no lugar do outro; cuidar; escutar; perceber como trabalhar em conjunto em prol do bem comum e reforçar aquilo que são as nossas estruturas sociais e comunitárias. Desconfio de que, sendo mais inteligentes emocionalmente, não temos nada a perder.

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