Costa do Marfim - Manual para o próximo golpe em África!

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A semana africana, invisível em Portugal, foi uma monumental tentativa de destabilização na Costa do Marfim (CdM), com base exclusiva na “alquimia das fake news”!

Factos:

Primeiro, contextualizar o facto de a CdM ter eleições presidenciais marcadas para Outubro e o actual Presidente (PR) Alassane Ouattara ser potencial concorrente a um quarto mandato consecutivo;

Segundo, celebrava Portugal o 51.º aniversário da revolução, no mesmo Abril em que Tidjane Thiam, uma das vozes - mais - grossas da oposição, foi constitucionalmente impedido de ser um desafiador do actual PR nas presidenciais de Outubro. Este é o “ambiente de negócios” actual em Abidjan, a capital;

Terceiro, a “semana virtual na CdM” foi plena de manifestações, lojas/centros comerciais a arder, detenções e tentativas de assassinato ao PR e principais patentes. Isto, quarta-feira. No resumo desse dia, o Chefe-de-Estado-Maior do Exército, Lassina Doumbia, fora assassinado e o PR Ouattara dado como desaparecido;

Quarto, no dia seguinte, quinta 22, comunicados da Agência Nacional dos Sistemas de Segurança (ANSSI) e do Gabinete do PR, negam por completo a cascata de notícias falsas do éter do dia anterior! Ouattara, fez prova de vida ao lado do PR do Togo Faure Gnassingbe, em cerimónia no palácio, que homenageava outro PR, Felix Houphourt-Boigny (1905-1993);

Quinto, o ataque de quarta-feira foi exclusivamente ao nível da desinformação online e da criação da zizânia, ancorada na desconfiança e no medo. No entanto, tudo ganha outra dimensão, ao acrescentar o facto de as autoridades do vizinho Burquina Faso, afirmarem terem recentemente abortado uma tentativa de golpe, ensaiada por um grupo de oficiais dissidentes, com ligações a líderes terroristas e à CdM. Depreende-se que seria deste território que projectariam força para o golpe no Burquina;

Sexto, estando a CdM sem o habitual contingente francês no território, desde Janeiro, parece fácil deduzir que uma força centrípeta a partir de Moscovo far-se-á sentir mais e mais, à medida que o Outubro eleitoral se aproximar. O modus operandi para o golpe na CdM obedece aliás, aos roteiros seguidos para os golpes no Mali, Burquina e Níger. A primeira fase, da desinformação desenfreada e descarada, viu o seu ensaio na semana passada. Um ambiente eleitoral, controverso, também enquadrou os cenários anteriores, “legitimando” a revolta;

Sétimo, até ao final do ano, a Aliança dos Estados do Sahel deverá ter novo membro, o que também significará ganhar peso e balanço para acabarem com a CEDEAO e com o Franco CFA, objectivo final deste “novo pan-africanismo do século”!

Politólogo/arabistawww.maghreb-machrek.pt

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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