Como ajudar as crianças a lidar com a morte?

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O resgate e a morte do pequeno Rayan obrigam-nos a refletir sobre a (sempre) difícil questão - como explicar a morte às crianças? O que dizer e o que não dizer? Devem as crianças ser envolvidas nos rituais associados à morte? Se sim, como e quando?

Apesar de não existir uma receita mágica válida para todas as crianças e todas as situações, a verdade é que nós, adultos, falamos muitas vezes da morte através de metáforas e eufemismos, associando-a ao "sono profundo", ao "descanso eterno" e às "estrelas" que brilham no céu. Evitamos abordar o assunto de uma forma clara e honesta, o que nem sempre contribui para o bem-estar da criança, que pode encontrar as suas próprias explicações, por vezes bem piores do que a realidade.

Deixamos aqui algumas orientações para os pais/cuidadores:

1. O primeiro passo para uma abordagem adequada implica disponibilidade emocional e capacidade em falar sobre o assunto de uma forma clara e adequada à idade da criança, sem deixar que o tema da morte se transforme num tabu.

2. Ajude a criança a perceber que pode fazer perguntas e expressar aquilo que sente. E que todas as emoções são válidas.

3. Escute a criança de forma empática, validando aquilo que sente.

4. As crianças mais novas, em idade pré-escolar, têm um funcionamento cognitivo muito concreto e precisam de explicações simples e sem detalhes que possam gerar medo ou ansiedade. A informação partilhada com a criança deve ser doseada em função da sua maturidade.

5. Ajude a criança a compreender que a morte é universal e irreversível.

6. Explique-lhe que, quando alguém morre, o seu corpo deixa de funcionar. A pessoa já não sente, não respira, não se mexe, não fala nem ouve. Também não sofre, ou seja, se tinha dores, deixou de as ter.

7. Diga de forma clara que morrer é diferente de dormir.

8. Transmita à criança que a culpa não é sua. Muitas crianças, especialmente as mais novas, pensam que o desaparecimento de alguém pode ser devido a algo que elas disseram ou fizeram.

9. Transmita segurança. É frequente as crianças sentirem-se mais vulneráveis, com medo de perder outras pessoas significativas.

10. Deixe a criança efetuar algumas escolhas, o que a ajuda a sentir uma sensação de controlo. Por exemplo, escolher se prefere fazer um desenho ou escrever um texto para se despedir da pessoa que morreu. Uma participação mais ativa nos rituais associados à morte facilita o processo de luto e deve ser equacionada em função da idade e do nível de desenvolvimento da criança.

11. Encoraje a realização de algumas atividades que ajudem a recordar e a manter viva a pessoa que morreu. Podem construir um álbum de fotografias, uma caixa com tesouros (objetos relacionados com a pessoa que morreu) ou fazer atividades associadas a essa pessoa. A mensagem que deve ser transmitida é a de que as memórias boas que temos da pessoa que morreu irão sempre permanecer no nosso coração e nunca morrem.

12. Mantenha, na medida do possível, as rotinas da criança, que transmitem segurança e previsibilidade.

13. Por fim, mas não menos importante, lembre-se de que o seu processo de ajustamento é uma das principais variáveis que influenciam o ajustamento da criança. Cuide de si, da sua saúde física e psicológica. Permita-se sorrir, chorar, zangar-se... e peça ajuda especializada se necessitar.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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