Caro Cassano, falemos de Ronaldo (e de ti)
Há uns tempos que andava com vontade de escrever uma carta. Hoje acordei decidido a fazê-lo. Não terá o romantismo do papel, do envelope e da ida aos correios para o respetivo envio. Contudo, sairá no jornal e, assim, permite-me partilhar com mais pessoas a minha missiva dirigida a um antigo futebolista italiano, de nome Antonio Cassano. Então, aqui vai.
Caro Cassano,
Por estes dias, os jornais de todo o mundo deram eco de mais uma das tuas “cassanatas”. Refiro-me à frase bombástica que largaste no podcast VivaElFutbol, em que afirmas que Cristiano Ronaldo não sabe jogar futebol, que até pode marcar 3.000 golos, mas que não sabe jogar em equipa.
Ah! Como esta carta é aberta, vale a pena recordar a quem a lê que o termo “cassanata” foi cunhado por um antigo treinador teu, o Fabio Capello, para se referir aos teus comportamentos disparatados e inadequados para quem é parte de uma equipa.
Por falar em equipa, voltemos ao Cristiano. Tal como tu foste, também ele é um avançado, cuja missão é marcar golos.
Numa equipa, não fazem todos o mesmo. O guarda-redes e os defesas evitam que as bolas entrem, os médios tratam do “box to box” e os atacantes assaltam a baliza adversária.
O ativo mais raro e valorizado neste último grupo é o do ponta-de-lança goleador. Foi nisso que o Cristiano se tornou. O seu valor para a equipa é aquele último toque, um chuto ou cabeçada, que tem a particularidade de fazer a bola ultrapassar a linha de golo e, assim, dar as vitórias, os pontos e os títulos à equipa.
O Cristiano já teve outros papéis na equipa, onde mostrou que também sabe dar baile. Aqueles 20 minutos de estreia no Manchester United, quando era ainda um adolescente, ficaram para a história da Premier League. Imagina o que teria sido se ele soubesse jogar futebol?
Foi no Real Madrid que o Cristiano se converteu no melhor goleador do mundo. Lá, marcou 450 dos seus 903 golos e conquistou quatro das suas cinco Champions. Nada mal, para quem não sabe jogar.
Ocorreu-me agora que tu também passaste pelo Real. Lembras-te que até te chamavam “El Gordito” porque tinhas uns quilos a mais? Em duas épocas, ainda te puseram a jogar em 29 jogos, mas só acertaste na baliza quatro vezes. Pelas minhas contas, ao Cristiano bastariam umas três semanas para fazer isso, mesmo sem saber jogar.
Chegados ao dia de hoje, meu caro Cassano, o Cristiano vai nos 39 anos e continua a ser capitão da seleção e a marcar golos aos adversários. Mas também tu, apesar de reformado aos 36, quando militavas na terceira divisão, teimas em manter-te ativo e lá vais marcando uns golos de boca, só que na própria baliza.
Despeço-me, com apreço e desejos de que nos continues a brindar com as tuas “cassanatas”, que sempre ajudam a vender uns jornais. Não desistas!