Em 8 de Setembro de 2015, o New York Times publicava um artigo elucidativo do critério com que a “Escola do Ressentimento” se propunha reparar o domínio material e cultural do homem branco (A White Poet Borrows a Chinese Name and Sets Off Fireworks). O que ali se contava era de antologia..Michael Derrick Hudson, um pobre poeta de Fort Wayne, Indiana, que tivera a desdita de ter nascido norte-americano e branco, enviara um poema, The Bees, Flowers, Jesus, Ancient Tigers, Poseidon, Adam and Eve, a 40 revistas e jornais literários e recebera 40 rejeições na volta do correio. Perante as recusas, resolveu recorrer ao velho artifício de escolher um nom de plume mais apelativo, que alguns teimaram em ver, não como o direito de assumir uma identidade à escolha, mesmo que contrária à realidade biológica, mas como o crime pós-colonial de roubar uma identidade minoritária..O facto é que o crime compensou, e o mesmo poema, mas agora assinado Yi-Fen Chou, não só era publicado numa revista literária, como selecionado para integrar a antologia Best American Poetry..O organizador da Antologia, Sherman Alexie, confessou que, num primeiro impulso, seleccionou o autor de suposta “etnia sino-americana” num acto de “justiça literária” em que, mais do que a qualidade do texto, funcionara um sentido de equidade e reparação para com o representante de uma minoria..Foi Harold Bloom (1930-2019), o controverso sumo pontífice da crítica literária, que cunhou o termo “Escola do Ressentimento”, logo nos alvores do movimento. Para Bloom, a “Escola do Ressentimento”, alheada daquilo que mantinha viva uma obra literária ou artística e a fazia perdurar no tempo, submetia os estudos literários e humanísticos a agendas políticas simplistas e entretinha-se com desfasadas sentenças moralistas e pueris tentativas de reparação histórica..Bloom era então um homem só, que tinha por divisa “quanto mais me dizem que estou errado mais me convenço de que estou certo”. Quando partiu em cruzada contra os que viam no cânone ocidental uma demonstração supremacista de poder, mediante a preconceituosa imposição de uma colecção de “Homens Brancos Mortos” (que se preparavam para banir), ainda a procissão ia no adro. E contra o que viria a ser a cultura do cancelamento, escrevia livros como O Cânone Ocidental ou Shakespeare: a Invenção do Humano..A “Escola do Ressentimento” e o seu moralismo, as suas escolhas, a sua tutela e os seus cancelamentos triunfaram e impuseram-se um pouco por todo o lado, mas sobretudo na América… Acabando por gerar um ressentimento geral que agora se transformou em votos.