Possivelmente, haverá neste momento uma sensação estranha entre uma certa camada da população portuguesa, sobretudo junto dos mais distraídos ou dos que desligaram por completo durante o verão. Com tantos anúncios súbitos de candidatos a candidatos presidenciais, talvez haja quem possa pensar que decorre já a campanha para a escolha de um novo Chefe de Estado..Quiçá este pseudo fenómeno tenha tido lugar por falta de notícias ou de assunto para os comentadores e seus habituais espaços de análise política e afins. De tal modo que os próprios comentadores (mimetizando o atual presidente), com mais ou menos estilo, lá passam de "protocandidatos" a verdadeiros candidatos, lançando as suas próprias candidaturas ao cargo do mais alto magistrado da nação..Antes de eu próprio assumir nestas linhas a função de "comentador", convém sublinhar que o atual presidente ainda tem cerca de metade do mandato por cumprir. Para além desse facto, haverá ainda um conjunto de atos eleitorais que podem ditar a alteração das circunstâncias políticas dentro dos partidos nacionais - e com isso as próprias ambições pessoais e aspirações partidárias..É certo que se trata de um cargo nominal, portanto sem caráter partidário. Contudo, quase sempre os partidos se pronunciam sobre as candidaturas, fomentando às mesmas um sentido de voto junto dos seus eleitores. Numa perspetiva mais futebolística, esta preparação para a "competição a sério" parece um género de marcação "homem a homem" ou uma tentativa de ir a jogo por antecipação..Esgotado o preambulo, sente-se no ar uma certa propensão "primária" por parte da direita nacional em plantar cogumelos presidenciáveis. Ora, esta proliferação pode ter vários significados, mas saliento em antemão um exemplo do qual discordo: a função de comentador televisivo não garante um trampolim direto para Belém..Sem desqualificar nenhum dos agora candidatos a candidato, dado o respeito que todos os cidadãos que se dispõem a exercer o cargo merecem à partida, há que referir que nos casos em apreço se trata de "corredores de fundo". Todos sabem que não estão perante uma corrida de 100 metros, mas sim diante de uma maratona..A questão fulcral é se estes candidatos o são na realidade ou pretendem apenas marcar o seu espaço político, permitindo a outros continuarem a crescer na sua sombra numa tentativa em manter o seu nome fora dessa "shortlist" de nomes a Belém..A resposta à pergunta anterior é óbvia: não. E já que de cogumelos se falou, surge nessa senda uma outra questão: qual é a pressa? Aos espectadores cabe assistir e registar que o país prossegue o seu dia-a-dia, tornando ainda mais estranhos estes anúncios..Mesmo com a novela em curso, e provavelmente com novos episódios em produção, à esquerda reina serenidade porque o momento é absolutamente descontextualizado. Portugal e os portugueses têm outros temas com que se preocupar..Até chegar o momento para a escolha do próximo Presidente da República há outras decisões com envergadura para tomar, sejam essas de âmbito regional ou internacional..Uma coisa é certa: muita água correrá daqui até 2026. E se há uma verdade em política é que com os atores em causa o que é hoje poderá não ser amanhã. Agora imagine-se quantas voltas poderão essas "verdades" dar em mais de dois anos...