O Presidente da República entendeu dizer, numa palestra que proferiu recentemente, que o Presidente dos EUA funcionava como um activo russo ou soviético.Podemos concordar ou discordar de MRS, mas todos sabemos que estamos perante um cidadão que sabe exactamente o que diz, só diz o que quer e quando quer e que, para além disso, sabe exactamente quais os poderes e responsabilidades de um Presidente da República.Estamos, por isso mesmo, perante uma afirmação que deve, no seu conteúdo, ser devidamente valorizada.Claro que é mais fácil reagir de um ponto de vista estritamente formal.Ou através da compreensível e adequada omissão de reacção, ou desenvolvendo um tortuoso discurso em matéria de repartição de competências no que tange à condução da política externa do Estado Português.Posso estar enganado, mas nada disso interessará muito ao Presidente da República. Antes lhe interessará, com o peso que a função e a credibilidade pessoal lhe dão, afirmar um pensamento e um posicionamento claros num mundo em que a Europa e o “Ocidente” tergiversam, hesitam, omitem, e vivem em avanços e recuos permanentes.Para qualquer cidadão normal que não é especialista em política internacional, como é o meu caso, talvez faça sentido pensar nesta sequência, toda dos últimos dias:· A guerra da Ucrânia já leva 3 anos· Em Agosto, Vladimir Putin e Lavrov (CCCP) foram ao Alasca reunir com Trump, tendo este anunciado a cimeira como determinante para a paz· Após esta cimeira de nulo alcance alguns europeus foram de “chapéu na mão” à casa Branca fazer de “meninos das alianças” de Zelenski, para um noivado inexistente· como a oeste nada de relevante acontecia, Putin partiu para leste onde se reuniu com os lideres das potências emergentes, o que é o menos, mas já o não é o facto de se ter reunido com os seus aliados e sponsors da guerra da Ucrânia· decorria a cimeira a leste quando a Rússia foi acusada, pela união Europeia, de ter bloqueado o GPS do avião que transportava Ursula von der Leyen durante a sua visita oficial à Bulgária· nesta cimeira o presidente turco e o presidente russo comunicam ao mundo e, por esta via, a Trump e à Europa, que a Turquia está a trabalhar para encontrar o fim para a guerra na Ucrânia, tendo mesmo Putin afirmado: “Estou confiante que o papel essencial da Turquia vai continuar a ser necessário neste assunto.” Desconhece-se qualquer reacção dos EUA…Da próxima vez que o Presidente da República falar sobre este tipo de assuntos talvez seja mais avisado atentar no conteúdo e não procurar ensinar-lhe direito constitucional.O principal poder de um Presidente da República é o poder da palavra e Marcelo Rebelo de Sousa usou-o.Advogado e gestor