A Maínha do Crime
Suedna Barbosa Carneiro, 41 anos, foi detida em Paraisópolis, favela no centro de São Paulo com cerca de 60 mil habitantes, na posse de três revólveres, 18 telemóveis, dinheiro, computadores, motos e joias, entre outros itens.
Conhecida como Maínha do Crime, ela alugava armas de fogo, motos, capacetes e mochilas a uma quadrilha de sete ladrões de telemóveis que depois vendia o produto dos roubos (com violência ou ameaça) e furtos (sem violência nem ameaça) à chefe.
Dois desses sete ladrões de telemóveis ao serviço da Maínha do Crime, diz investigação das autoridades, mataram o delegado de polícia Josenildo Moura, 32 anos, e o instrutor de ciclismo Vítor Medrado, 46, em latrocínios (roubo seguido de morte) filmados por câmaras de segurança que chocaram os paulistanos.
Assim como chocaram os brasileiros todos, não apenas os habitantes de São Paulo, os números de furtos e roubos de telemóveis no país, divulgados na imprensa com base nos números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e numa pesquisa do instituto de sondagens Datafolha.
Entre julho de 2023 e julho de 2024, houve 1680 roubos ou furtos por hora, ou seja, 28 por minuto no Brasil. Um em cada 10 brasileiros já foi vítima desse tipo de crime. No total, os visados nesse período somam 14,7 milhões de pessoas, equivalentes a quase Portugal e meio.
O prejuízo anual estimado dos roubos e furtos é de 22,8 milhões de reais (perto de quatro milhões de euros) porque não se cinge ao valor dos aparelhos: soma os danos com golpes bancários e derivados.
Cariocas e paulistanos, os habitantes das duas cidades mais populosas, já usam até telemóvel “de trazer por casa”, aquele com as informações pessoais e financeiras mais importantes, e telemóvel “de andar na rua”, sem nenhum elemento relevante.
Como um tema social que afeta muita gente se torna imediatamente um tema político, governo e oposição disputam agora a iniciativa do seu combate.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública encaminhou ao Palácio do Planalto um projeto de lei que propõe aumentar em até 50% as penas por aquisição ilegal de telemóveis, como no caso da Maínha do Crime, e outros dispositivos eletrónicos, depois de o presidente Lula da Silva se ter dito comprometido com o combate à “república de ladrões de celular (telemóvel no Brasil)”.
Em paralelo, o governo lançou a função “Celular Seguro”, que enviará notificações via WhatsApp a aparelhos registados como roubados ou furtados e que já determinou 43 mil bloqueios por roubo, 30 mil por furto e 19 mil por perda.
Na oposição, a bancada da bala, grupo de deputados ex-polícias e ex-militares, pediu aumento da pena também do ladrão em si e não apenas dos chefes, como a Maínha do Crime.
No entanto, o grupo age em paralelo para aprovar um projeto de lei que permite a condenados em primeira ou segunda instância o acesso a armas de fogo, como as que mataram o delegado de polícia e o instrutor de ciclismo.
Jornalista, correspondente em São Paulo