Apague-se o título deste texto, porque nestas linhas vai-se dissertar sobre a renúncia à nossa história marginal. Sobre a renúncia à história das artes, do desenho, da pintura, da literatura. E mais, e mais, e outras que tais!.Preparem-se que este texto vai sugerir que se passe uma borracha por cima dos nossos "canhões" culturais, por cima das "nossas armas" ancestrais, por cima da obra de Alfredo Keil e de Henrique Lopes Mendonça (A Portuguesa, 1911)..Que se apaguem Os Lusíadas (1572)! Obra épica que faz alusão ao amor carnal e ao culto pagão, que foi idealizada e escrita pelo poeta que tinha um ajudante escravo. Obra que aponta às Descobertas e às conquistas feitas através da violência e com o recurso a espingardas, arcabuzes, mosquetes, e outros que tais, facas, punhais, espadas e outros objetos letais..Arranquem-se as páginas dos livros onde o incesto é o prato do dia. Ou que se rescrevam! Mude-se a relação incestuosa de Carlos da Maia com a sua irmã Maria Eduarda. (Os Maias, 1888) Mude-se tudo!.Elimine-se o Bocage das livrarias, das bibliotecas, das escolas e já agora da História da Literatura Portuguesa..Condene-se a relação de Simão Botelho que se casa com uma menor de apenas 16 anos de idade. (Amor de Perdição, 1861).Desprezem-se os desenhos de mulheres nuas do João Cutileiro! São um atentado ao pudor. Que se vistam os desenhos ou que lhes larguem o fogo. Apaguem-nos das nossas vidas..Que se destruam todos os exemplares que incitam à morte. Os físicos, os digitais, e outros que tais. Que morram todos. Pim! Morra o Dantas também. Pam! E o Almada. Todos! (Manifesto Anti-Dantas, 1915).Que se fechem os olhos nas cenas tórridas em que a Soraia Chaves se envolve com o "padre Corrula" ou então que se cortem uns quantos centímetros na película da bobine. (O Crime do Padre Amaro, 2005).Cortem tudo! Porque estamos em tempos que por termos os olhos abertos, por si só, já é um atentado ao pudor..E agora? O que seria das nossas vidas se cortássemos estes episódios do filme que conta a nossa História? Felizmente isto é só um texto. Um texto! Nada mais do que isso..Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia