A Direita morde outra vez a maçã

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A aproximação das eleições regionais na Madeira tem deixado o PSD agarrado à máquina de calcular.

Nas últimas eleições regionais, a invulgar especificidade da democracia madeirense, que mantém há quase 50 anos (!) o mesmo partido no poder, esteve perto de terminar. O PSD perdeu a maioria absoluta, mas coligou-se com o CDS para segurar o Governo Regional.

De acordo com algumas sondagens, essa aliança pode agora ser insuficiente.

Perante a ameaça, o PSD-Madeira seguiu o exemplo dos Açores e logo se disponibilizou para um acordo com o Chega. Sem equívocos, Miguel Albuquerque não só rejeitou estabelecer qualquer "linha vermelha" relativamente ao Chega, como, em junho, já recomendava a Luís Montenegro que fizesse o mesmo.

Não que Montenegro precisasse da recomendação, pois sempre recusou uma clara demarcação do Chega e nunca se opôs ao acordo que continua a sustentar o Governo dos Açores, tal como agora não o fez relativamente a essa possibilidade na Madeira.

O argumento de Miguel Albuquerque, afinal, é o mesmo que já foi usado pelo PSD nacional: como o Tribunal Constitucional autorizou o Chega a constituir-se como partido, então nada deve impedir uma aliança.

Sucede, porém, que na política (como na vida) não basta que algo seja legal: é importante também que seja moral.

Aliar-se a um partido de Extrema-Direita, racista, que instila o ódio e cavalgou a onda negacionista das vacinas é algo que um partido democrático não devia sequer contemplar. Poderá permitir ao PSD agarrar-se ao poder, mas destrói as bases do sistema democrático - e pode destruir o próprio PSD.

É verdade que nos tempos de Pedro Passos Coelho o PSD deu uma grande guinada à Direita, posição de onde não mais saiu. Rui Rio ainda tentou atenuar essa viragem, com enorme oposição interna e sem grande sucesso. Como herdeiro do passismo, Montenegro veio vincar essa matriz mais de Direita.

É a partir dessa posição que os dirigentes do PSD se estão a inspirar em exemplos europeus, como o prometido (e aparentemente frustrado) acordo entre o PP e o VOX espanhóis, ou a coligação sueca entre a Direita moderada e a Extrema-Direita.

Talvez não queiram confrontar-se com a realidade, mas não estão a fazer as comparações certas. Os parceiros europeus de André Ventura não são esses partidos, mas outros que, por difícil que possa parecer, estão ainda mais à Direita.

São partidos tão à Direita, mas tão à Direita, que os vários grupos políticos no Parlamento Europeu, incluindo o Partido Popular Europeu (que PSD e CDS integram) se recusam a negociar com eles.

Sim, é verdade: o Chega (por sua escolha) aderiu a um grupo político que é tão radical e antieuropeísta que é considerado proscrito na política europeia, incluindo pelo próprio PSD. Por cá, finge que não há problema nenhum.

Alguns dizem que Luís Montenegro é ambíguo relativamente ao Chega, mas não há ambiguidade alguma. Teve dezenas, senão centenas, de oportunidades para rejeitar o Chega; não o fez porque nunca o quis fazer. Fará o que for preciso para alcançar o poder.

Se algum dia vier a rejeitar o Chega, será sempre por tática eleitoral, nunca por princípios. Esses, já deixou bem claros.

Fernando Pimenta, João Ribeiro e Messias Batista são três extraordinários atletas.

Campeões do Mundo, elevaram mais uma vez o nome de Portugal ao topo da canoagem e do desporto internacional. Os meus sinceros parabéns.


Eurodeputado

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