A crónica de uma morte anunciada

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À hora a que escrevo, os resultados ainda estão por definir. Qualquer um poderá vencer à pele, mas as vitórias não serão iguais. Ora vejamos.

A Aliança Democrática arrisca-se a ter um resultado pior do que o PSD teve aquando da maioria absoluta de António Costa. Ainda assim, a conseguir ganhar, Luís Montenegro poderá reclamar a vitória para si - será sempre apesar dos tropeções das figuras AD.

Perdendo, Luís Montenegro precisará de coragem política para se manter fiel a si mesmo e rejeitar coligações com os quase 50 deputados do Chega. Ficará, assim, dependente da boa vontade de um Partido Socialista que sai reforçado: mesmo perdendo, perde por unha negra depois de 8 anos encerrados por uma queda precipitada e nebulosa.

É que António Costa consegue o impensável - e os resultados de Pedro Nuno comprovam-no. Mas o resultado dos socialistas não vem do mérito das propostas transformadoras, porque não são, não vem da confiabilidade assoberbante de Pedro Nuno, porque não a transmite, nem da falta de alternativa à direita, porque os portugueses viraram a maioria sociológica.

Vem de António Costa, que conseguiu que a única coisa de que se falasse em campanha fosse as contas certas do seu Governo.

Pedro Correia / Global Imagens

E, do outro lado do espelho, os resultados não existem porque Passos Coelho inspirou os reformados, nem porque as declarações inusitadas de Paulo Núncio mobilizaram o voto mais extremado. A Aliança Democrática consegue escapar-se do entalanço entre duas forças nas suas pontas porque Luís Montenegro reconheceu a estratégia de Cavaco e reclamou-a para si, contra tudo e contra todos. Querendo sobreviver, terá de se equilibrar na corda bamba até à votação do seu Orçamento em outubro.

Seja qual for o resultado, anunciávamos a preferência pela estabilidade, mas perdemos. A mudança não é sociológica. Os eleitores portugueses anunciaram hoje [ontem] que precisam de um primeiro-ministro confiável. E nenhum dos dois conseguiu sê-lo.

Vemo-nos em dezembro.

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