Veio para Portugal em 1984, com uma bolsa, para estudar Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico em Lisboa. O objetivo era tirar o curso e tornar-se no senhor engenheiro António Prazeres. Mas a vida, ou melhor dizendo, a música, um bichinho que já trazia de África, trocou-lhe as voltas e São Tomé perdeu um engenheiro, mas Portugal, e o mundo, ganhou Tonecas Prazeres, que tem tido como missão divulgar as raízes musicais da sua terra. Arrependido? "Ter uma valência académica é bom em termos profissionais se se exercer a profissão e para o status também, senhor engenheiro António Prazeres e tal... Mas agora sou mais feliz como Tonecas. Não digo que a música preencheu a 100% as minhas aspirações, sofri muito, tenho sofrido muito, uma pessoa para ter notoriedade tem de trabalhar muito. E há a agravante de sermos trabalhadores a recibos verdes e muitas vezes nem isso. E depois temos dificuldades em ter rendimentos para cobrir a Segurança Social, as Finanças...".Mas vamos começar pelo início. Tonecas Prazeres nasceu a 5 de maio de 1963 no Príncipe, a ilha mais pequena de São Tomé e Príncipe. Aos 5 anos, mudou-se com a família para Angola, para a região de Benguela, depois de o pai, um técnico de Finanças, ter ganho um concurso administrativo. Fez por lá a escola primária, mas regressaram a casa depois da independência em 1976. O regresso ao Príncipe foi curto, pois teve de mudar-se para São Tomé quando entrou para o liceu. "Fui para um lar de estudantes, onde havia lá sempre viola e a malta de lá, a malta do Príncipe tocava. Havia um lar em São Tomé específico para os estudantes que vinham do Príncipe. Naquele lar havia todas as condições para se aprender a tocar, embora eu já vinha com alguma tendência desde Angola. O meu irmão mais velho tocava num grupo e levava sempre as violas para casa". Foi também nesta época, por volta de 1981, que, sob a orientação do maestro Felício Mendes, fez parte dos Canucos das Ilhas Verdes. "Fazíamos grande sucesso porque eram uns miúdos a tocar", recorda. Em novembro de 1984, vem finalmente para Lisboa. "Uma pessoa faz a tropa, depois vai para o Técnico e começa a levar com aquelas matemáticas todas. Foi complicado, mas foi giro. Nunca tinha estado em Portugal, foi um choque", recorda entre risos. Fez o primeiro ano, o segundo, e entretanto começou a tocar no Bairro Alto. O curso acabou por ser abandonado ao terceiro ano, mas ainda ficou mais uns anos no Técnico como funcionário..Nesse percurso do Bairro Alto, diz que em 87 ou 88, cruzou-se com Mariza. "Ela tinha uns 13 anos, estava a começar e a mãe pediu-me para a acompanhar", conta. A cantora, então uma adolescente, chegou a fazer anos mais tarde os coros da Banda Dexa, o grupo de Tonecas Prazeres que, em 1990 fez a primeira parte de Rui Veloso na Aula Magna. Nesse mesmo ano, esteve em Roma, tendo tocado para o papa João Paulo II no âmbito do programa Mundial da Juventude UNIV 90. "Um dia fiquei sem rolo para a máquina fotográfica e fui para as escadarias da Praça de Espanha, abri a viola, eu mais um amigo, metemos os óculos escuros e começámos a tocar música africana, era só liras a cair... Deu para comprarmos rolos e umas t-shirts...". Desde então viveu dois anos em Macau, "era para ser apenas três meses", e tem divulgado a sua música em locais como Brasil, China ou Taiwan..O seu disco de estreia Tonecas Prazeres Afrovungo Projet, surgiu em 2015, projeto que já preparava há uma década, mas que, por falta de apoios, só viu a luz graças a um empréstimo bancário. "Com o disco consegui o que queria, ir buscar raízes, fui buscar temas antigos, um deles tem quase 80 anos, temas das avós que eu fui resgatar e dei uma roupagem nova".