A última réplica do terramoto político causado pelas delações da Lava-Jato teve epicentro no Palácio do Planalto. Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, citou, com detalhes, a participação de Michel Temer, presidente em exercício do Brasil e colega do delator no PMDB, no escândalo do Petrolão. Além de Temer, mais 24 políticos de primeiro escalão foram mencionados, entre os quais todos os membros da cúpula peemedebista, principal base do governo interino. A oposição equaciona pedir o impeachment do presidente que substituiu a afastada Dilma Rousseff do PT. Do Planalto veio reação feroz horas depois da divulgação da delação.."Eu quero fazer uma declaração sobre a manifestação irresponsável do cidadão Sérgio Machado e quero dizer que falo em primeiro lugar como ser humano para afirmar que a nossa honorabilidade está acima de qualquer outra função ou tarefa pública", disse Temer em vídeo de sete minutos. Durante o discurso chamou ainda a delação de "criminosa, leviana e mentirosa"..Na delação, Machado vinculou Temer a um esquema de subornos que vigorou por dez anos na Transpetro. Disse que o presidente interino negociou uma comissão para um candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo e ainda que uma doação da empresa JBS de 40 milhões de reais (dez milhões de euros) ao partido fez Temer reassumir a liderança peemedebista para "controlar o destino dos recursos"..Machado garante ter pago 100 milhões de reais, à volta de 25 milhões de euros, de um "fundo de comissões" com conta na Suíça, a mais 24 políticos. Além de Temer, foram citados o presidente do Senado Renan Calheiros, dois ministros do atual governo, Henrique Eduardo Alves, do Turismo, e Sarney Filho, do Ambiente, o recém-afastado ministro do Planeamento Romero Jucá, o ex-presidente José Sarney, o governador do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, mais oito senadores, entre os quais Aécio Neves, presidente do PSDB e candidato presidencial derrotado em 2014. No total, há menção a membros de sete partidos - além do PMDB, o mais atingido, o PT, o PSDB, o PP, o DEM, o PSB e o PCdoB..Machado confirmou o que se sabia do esquema de corrupção na Petrobras: políticos indicavam gestores para a petrolífera, cujas funções eram, por um lado, arrecadar dinheiro para quem os indicara, e atribuir a construtoras envolvidas nas fraudes contratos e projetos pelos quais elas pagavam valores por baixo da mesa. No acordo de delação, Machado comprometeu-se com a justiça a devolver 75 milhões de reais (19 milhões de euros), além de denunciar os parceiros em troca de diminuição substancial da pena..Dilma contra-ataca.No Congresso, deputados do PT e do PSOL estudam pedir o impeachment de Temer. "Estamos a estudar mas só tomaremos providências com provas, não queremos fazer o que o PMDB fez com o PT que foi pedir o impeachment da presidente eleita sem provas", afirmou Afonso Florence, líder parlamentar petista. "É uma acusação muito grave que macula um governo que está há um mês em exercício e há um mês a fugir da polícia", completou Ivan Valente, do PSOL..Em paralelo, Dilma faz um périplo de três dias por estados nordestinos, tradicionalmente próximos do PT, e aproveita para atacar o seu ex-vice-presidente e sucessor. "O impeachment só serviu para impedir que as investigações atinjam integrantes do governo provisório", disse, em João Pessoa, capital da Paraíba..Na primeira quinzena de agosto, os 81 senadores, sob a presidência do juiz do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski, vão votar o impeachment de Dilma. Se dois terços optarem pela destituição, Temer é efetivado no cargo; caso contrário, a petista volta à presidência..São Paulo.[artigo:5230116]