Transferências de assessor atingem filho e mulher de Bolsonaro

Fabrício Queiroz, motorista e segurança de Flávio Bolsonaro, movimentou "quantias atípicas", diz Lava-Jato. Entre elas está um cheque destinado à futura primeira-dama do Brasil
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Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), num desdobramento da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, descobriu movimentações financeiras atípicas de um assessor de Flávio Bolsonaro, deputado estadual entretanto eleito senador e filho mais velho do futuro presidente Jair Bolsonaro. Entre essas movimentações, que totalizaram um total de 1,2 milhões de reais (cerca de 270 mil euros) de janeiro de 2016 a janeiro de 2017, está um cheque enviado à próxima primeira-dama do Brasil Michele Bolsonaro.

O episódio surge num anexo da Operação Furna da Onça, realizada há um mês no âmbito da Lava Jato, que resultou na prisão de sete deputados da Assembleia Legislativa do Rio suspeitos de receberem mesada para apoiar o ex-governador do estado Sergio Cabral, condenado a penas acumuladas de 198 anos de prisão por corrupção. Flavio Bolsonaro, que ainda é formalmente deputado estadual embora tenha sido eleito em outubro para o Senado Federal, não era um dos investigados.

Porém, o COAF fez um levantamento das movimentações financeiras de todos os funcionários da Assembleia Legislativa, incluindo de Fabrício Queiroz, um polícia militar que desempenhou funções de motorista e segurança de Flávio de 2007 a 2018. E descobriu os tais valores considerados excessivos para alguém cujo salário acumulado como polícia e assessor do deputado estadual não passava dos 23 mil reais [cerca de 5,3 mil euros]. No meio deles, uma transferência para Michele Bolsonaro. Outra dos destinatárias das transferências foi Nathalia Queiroz, filha de Fabrício e assessora de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

O Ministério Público federal confirmou a existência dos documentos inicialmente reveladas em investigação do jornal O Estado de S. Paulo. "Esse material foi espontaneamente difundido pelo COAF como consequência do processo de partilha de informações entre os órgãos de investigação", disseram os procuradores.

Amigo, além de assessor, como registou Flávio Bolsonaro, o agente Fabrício Queiroz chegou a ser homenageado pelo patrão em 2003 pelo "brilhantismo e galhardia" no exercício da sua função. Carlos Bolsonaro, vereador do Rio e irmão de Flávio, requereu que Queiroz recebesse a principal homenagem do estado, uma medalha de mérito.

Procurados pela imprensa, nem o presidente eleito nem a futura primeira-dama comentaram o episódio. Os assessores de Flávio publicaram nota em defesa de Queiroz. "Fabrício Queiroz trabalha há mais de dez anos como segurança e motorista do deputado Flavio Bolsonaro, com quem construiu uma relação de amizade e confiança. O deputado não possui informação de qualquer fato que desabone sua conduta". O próprio Queiroz também ainda não se explicou.

O COAF, órgão que indicou as movimentações suspeitas, era no governo cessante de Michel Temer parte do Ministério da Fazenda. No executivo de Bolsonaro estará sob a alçada do super-ministério da justiça liderado pelo ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro.

O PT, principal partido da oposição ao governo, já pediu à Procuradoria-Geral da República que investigue Flávio e Michele Bolsonaro.

Já em agosto, numa operação policial chamada Quarto Elemento, que teve como alvo dezenas de polícias militares e civis suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em praticar extorsões, dois seguranças de Flávio Bolsonaro haviam sido detidos. Alan e Alex Rodrigues, irmãos gémeos, eram por sua vez irmãos de Valdenice Meliga, tesoureira do PSL, partido do presidente eleito, no estado do Rio de Janeiro.

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