Se o Reino Unido desistir do divórcio, a União Europeia terá todo o gosto em renovar os votos do casamento. A garantia é dada pelo presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, em declarações ao The Guardian. "Se o novo governo decidir mudar de posição, isso é possível. A decisão final caberá aos outros 27 Estados-membros, mas toda a gente será favorável. Eu ficaria muito feliz", referiu o político italiano..Até que ponto as próximas eleições podem movimentar as peças neste xadrez? Para já o cenário de inversão do brexit parece pouco realista. Theresa May voltou a sublinhar na terça-feira que "o Reino Unido vai sair da União Europeia e não há volta a dar". Por outro lado, Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, também não parece interessado em fazer pressão noutro sentido. "Um segundo referendo não faz parte das nossas propostas e não estará no nosso programa eleitoral", defendeu nesta semana um porta-voz do Labour. Tendo em conta que os independentistas do UKIP serão sempre defensores do afastamento, para remar em sentido contrário restam os Liberais Democratas e o Partido Nacional Escocês. Ainda assim, será difícil que estas duas forças políticas consigam um resultado que lhes dê peso suficiente para mudar o rumo do divórcio com a UE. O próprio Lib Dem tem sido de certa forma tímido nas pretensões. Tim Farron, o líder, não diz que pretende travar a saída da UE, refere apenas que os liberais são a única força política capaz de impedir uma maioria conservadora e de evitar um hard brexit - saída sem acesso ao mercado único..Por muito que Tajani garanta que a Europa ficará feliz se Londres quiser fazer as pazes, o Reino Unido, para já, não parece interessado na reconciliação..As negociações entre o Reino Unido e os 27 deverão começar verdadeiramente depois das eleições, já com o novo governo britânico em funções. Mas tudo indica que os líderes europeus serão intransigentes e que não estão dispostos a grandes cedências. Um documento ao qual a Reuters teve acesso mostra as questões consideradas chave nas diretivas de Michel Barnier, o negociador-chefe da União Europeia..Segundo a informação divulgada ontem, o Reino Unido continuará obrigado a fazer pagamentos a Bruxelas muitos anos após o brexit. Ainda que o documento não avance com uma estimativa para o valor em dívida, fala-se numa quantia que pode ascender a 60 mil milhões de euros. O Reino Unido terá também que assegurar os direitos dos cerca de três milhões de cidadãos comunitários a residir no Reino Unido, continuando a permitir a entrada dos familiares destes trabalhadores. Acresce ainda que durante uma fase de transição, continuará a ser o Tribunal Europeu de Justiça a garantir a aplicação de muitas normas..Tendo em conta que recuperar o controlo das leis, definir quem pode entrar no Reino Unido e reduzir os fundos que são enviados para Bruxelas são três das questões fundamentais para May e para os defensores do brexit, não será fácil chegar a um acordo. Para o próximo dia 29 está marcado um conselho europeu sobre o brexit, no qual se espera que os 27 cheguem a uma posição e a uma declaração comum que sirva de guia às futuras negociações..Num artigo publicado ontem no The Evening Standard, o ex-primeiro-ministro trabalhista Tony Blair diz que May vencerá as eleições com uma larga maioria, mas apela aos políticos que se opõem a um hard brexit para que unam esforços de forma a garantir que os conservadores não recebem um mandato para o brexit "a qualquer custo".