Começa julgamento de portuguesa suspeita de pertencer a grupo terrorista neonazi
A portuguesa Claudia Patatas começou hoje a ser julgada num tribunal britânico, acusada de pertencer clandestinamente a uma organização terrorista que defende a supremacia branca, mesmo depois de ter sido proscrita em 2016.
Patatas, de 38 anos, está no banco dos réus do tribunal criminal de Birmingham juntamente com outros dois britânicos, o companheiro, Adam Thomas, de 22 anos, e Daniel Bogunovic, de 27 anos, por alegadamente pertencer ao grupo neonazi Ação Nacional [National Action].
A portuguesa e Thomas chamaram ao filho Adolf, foi hoje revelado em tribunal. A criança, nascida em novembro do ano passado, tem Adolf como segundo nome, elemento que o procurador público, responsável pela acusação, considera relevante.
"Dado que a criança nasceu quase um ano após a Ação Nacional ter sido proscrita, pode pensar-se que o uso do nome 'Adolf', mesmo como um nome do meio, tem um significado", disse.
O procurador revelou que a portuguesa era conhecida no grupo criado na rede de mensagens protegida Telegram como 'Sigrun' ou 'K Sigrun', uma referência a uma deusa nórdica ou Valquíria que podia escolher quem poderia viver ou morrer em batalha, e que usava esse nome numa conta de email encriptada.
No seu telemóvel, foram encontradas fotografias de armas tiradas por Mikko Vehvilainen, um militar membro do grupo, condenado em abril por posse ilegal de gás pimenta e descrito pelo juiz na altura como racista.
Outra das provas é uma fotografia em que Fletcher faz a saudação nazi e segura uma bandeira com a suástica junto ao filho de Patatas e Thomas.
Por seu lado, Adam Thomas, de 22 anos, que vivia na mesma morada de Claudia Patatas, tinha ainda no seu computador "The Anarchy Cookbook" [O livro de receitas do anarquista], que tem instruções sobre como fazer dispositivos explosivos.
Patatas, Thomas e Bogunovic são acusados de pertencerem à Ação Nacional depois de esta ter sido proscrita por ser considerada "uma organização racista, antissemita e homofóbica que suscita o ódio, glorifica a violência e promove uma ideologia vil" devido ao material que disseminava na Internet, nomeadamente nas redes sociais, com imagens e linguagem violentas e apelos a atos de terrorismo.
No âmbito da lei sobre o terrorismo de 2000 [Terrorism Act], os seus membros ou apoiantes podem ser condenados até 10 anos de prisão.
O julgamento, presidido pelo juiz Melbourne Inman, está previsto durar entre três a quatro semanas.
A portuguesa é acusada de fazer parte de uma "pequena célula de fanáticos" que advogava uma "Jihad branca" e cujas opiniões e ações iam "para além do insulto racial ocasional".
O grupo, segundo o procurador público Barnaby Jameson, classificava como "sub-humanos" aqueles que não se enquadrariam no ideal da supremacia branca, nomeadamente negros, judeus, asiáticos, homossexuais, comunistas e feministas.
"O culto em questão tinha um rancor particular contra as mulheres deputadas do partido Trabalhista vistas como simpáticas aos migrantes", adiantou.
No âmbito da lei sobre o terrorismo de 2000 [Terrorism Act], os seus membros ou apoiantes podem ser condenados até 10 anos de prisão.
A acusação argumenta que a Ação Nacional celebrava as suásticas iguais às usadas pelo partido nazi de Adolf Hitler e as cruzes em chamas do grupo racista norte-americano Ku Klux Klan.
"Este caso é sobre o que aconteceu antes de a Ação Nacional ser proscrita e o que aconteceu depois. A diferença entre 'antes' e 'depois' é que qualquer pessoa que se prove membro de um grupo terrorista proscrito comete uma ofensa criminal. Outros grupos terroristas proscritos incluem o IRA [Exército Republicano Irlandês] e o Estado Islâmico", vincou Jameson.
A acusação afirma que, depois de ter sido proscrita, a Ação Nacional foi reconfigurada e adotou outros nomes como "Triple K Mafia" ou "Soldiers of Moonman" [Soldados de Moonman] para "retomar a luta da supremacia ariana violenta clandestinamente" e que os réus eram membros, antes e depois.
Além dos crimes de ódio cometidos, o procurador afirmou que os membros do grupo estavam "preparados para espalhar o terror", tendo acumulado armas, como espingardas, facas, picadores de gelo, bestas ou machetes.
Adam Thomas, o companheiro de Claudia Patatas com quem a portuguesa tem um filho, com menos de um ano de idade, tinha ainda no seu computador instruções sobre como fazer dispositivos explosivos, pelo que também é acusado de possuir um documento com conteúdo terrorista que pudesse ser útil a alguém que quisesse cometer um ato terrorista.
"Em resumo, o caso é sobre um grupo que, nas próprias palavras de um membro condenado, trocou uma pele por outra. Quando a Ação Nacional foi proscrita, ela simplesmente recebeu outro nome e continuou nas sombras", sintetizou o procurador.
Patatas, Thomas e Bogunovic declararam-se inocentes das acusações, enquanto Nathan Pryke, 27 anos, Darren Fletcher, 28, e Joel Wilmore, 24, igualmente detidos na operação policial em 3 de janeiro, declararam-se culpados, aguardando a sentença.
O julgamento, presidido pelo juiz Melbourne Inman, está previsto durar entre três e quatro semanas.