"Eu não sou o Pai Natal". Moscovici responde a Salvini
Tudo começou na quarta-feira, quando Matteo Salvini , o líder da Liga (de extrema-direita e coligado no governo com o Movimento 5 Estrelas) e vice-primeiro-ministro de Itália brincou com a decisão de Bruxelas de chumbar o orçamento de Roma. "A carta da União Europeia chegou? Também estou à espera da do Pai Natal!"
A resposta surgiu esta quinta-feira numa entrevista de Pierre Moscovici ao Corriere della Sera. O comissário europeu dos Assuntos Económicos exigiu que o governo italiano mostre algum respeito pelas instituições europeias e alertou o governo para "não bater no ceguinho".
"Não sou o Pai Natal, sou o comissário europeu dos Assuntos Económicos e acho que estas questões devem ser tratadas com respeito mútuo, com seriedade e dignidade", afirmou Moscovici, apelando de novo ao diálogo. O comissário recordou que os comentários de Bruxelas são "sempre prudentes", ao contrário dos dos líderes italianos, que são "por vezes agressivos".
Confirmando a tensão existente entre os dois, Salvini não deixou a entrevista do francês sem resposta. O vice-primeiro-ministro e ministro do Interior garantiu: "Os italianos não são um povo de vendedores de tapetes ou se mendigos. Moscovici continua a insultar Itália, mas o seu salário também é pago pelos italianos".
E acrescentou: "Agora chega. A paciência terminou. Estou farto dos insultos que chegam todos os dias de Bruxelas e de Paris".
A Comissão Europeia deu na quarta-feira o primeiro passo para sancionar a Itália pelo desvio "particularmente grave" das regras europeias inscrito na sua proposta orçamental para 2019, mas o processo poderá não estar concluído antes das eleições europeias.
O anúncio da recomendação de abertura de um procedimento por défice excessivo a Itália com base na dívida, feito por Moscovici, e pelo comissário responsável pela pasta do Euro, Valdis Dombrovskis, não surpreendeu ninguém, nem mesmo o Governo italiano, reiteradamente alertado por Bruxelas para o desvio flagrante das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC).
A nova rejeição do plano orçamental de Itália para 2019 - que já tinha sido 'chumbado' por Bruxelas em 23 de outubro, numa decisão inédita na história do PEC - e a consequente abertura de um procedimento por défice excessivo foram, contudo, apenas os primeiros passos naquele que se adivinha como um longo processo que poderá demorar meses e não estar concluído antes das eleições europeias de maio.