Depois de 28 países terem ido a votos, há vencedores e vencidos para todos os gostos, de Madrid a Nicósia, num Parlamento Europeu mais fragmentado do que até agora. Por cá, leia aqui o balanço da noite eleitoral..VENCEDORES.Matteo Salvini.A Liga conquistou um terço dos votos em Itália, quase duplicando o número de eurodeputados que tinha e ultrapassando o parceiro de coligação governamental, o Movimento 5 Estrelas, como o partido mais votado no país. Este foi até ultrapassado pelo Partido Democrático (PD)..Para o líder parlamentar da Liga, tal resultado deve dar mais força ao partido para estabelecer as prioridades do governo, como o corte de impostos defendido por Matteo Salvini, que choca com as regras orçamentais europeias.."Para mim, os nossos aliados do governo são amigos e, a partir de amanhã, voltaremos a trabalhar com serenidade e um tom mais suave", disse Salvini aos jornalistas após a vitória e depois de uma campanha que ficou marcada por trocas de palavras acesas com o parceiro de coligação e dúvidas sobre o futuro da parceria. "O meu adversário continua a ser a esquerda", acrescentou, referindo-se ao PD..Marine Le Pen.Apesar de ter ficado ligeiramente abaixo da percentagem alcançada nas eleições de 2014, a União Nacional (ex-Frente Nacional) foi a mais votada em França, derrotando o partido do presidente Emmanuel Macron e tendo até mais votos do que os que Marine Le Pen conseguiu nas presidenciais..Os escândalos dos empregos fictícios que envolve o partido no Parlamento Europeu, que implica a própria Le Pen, não terá tido qualquer impacto entre os eleitores..Após a vitória, Le Pen exigiu a dissolução da Assembleia Nacional francesa. "O presidente da República deve tirar conclusões", referiu, dizendo que a Assembleia deve ser dissolvida "para tornar o sistema eleitoral mais democrático e, finalmente, representar a real opinião do país"..Nigel Farage.Nas eleições que queria que não tivessem existido, Nigel Farage foi o grande vencedor da noite eleitoral no Reino Unido. O seu Partido do Brexit teve cerca de 33% dos votos, roubando votos ao Partido Conservador (menos de 9%, uma queda de 16 pontos percentuais), mas também ao Trabalhista (14,6%, menos 10.8 pontos)..O resultado foi até melhor do que o do Ukip, o anterior partido de Farage, em 2014, já que consegue eleger 29 deputado e antes tinha 24. Ainda assim, ficou aquém do que chegou a ser apontado nas sondagens, que chegaram a dar-lhe 37% das intenções de voto..Na resposta ao resultado eleitoral, Farage alegou que pode ganhar as próximas eleições gerais britânicas, se o próximo líder conservador que substituirá Theresa May não for capaz de garantir o Brexit até ao final de outubro.."A próxima data é 31 de outubro. Vai ser uma data tão grande na mente das pessoas como o 29 de março. Se não sairmos até lá, então podemos esperar ver o sucesso do Partido do Brexit da noite passada continuar até às próximas eleições gerais", disse à BBC..Viktor Orbán.A hegemonia do primeiro-ministro húngaro ficou mais uma vez provada nas eleições europeias, com o Fidesz a conseguir 52% dos votos na Hungria, mais 35 pontos percentuais que a oposição..O Fidesz foi suspenso pelo Partido Popular Europeu (PPE) em março e tem sido cortejado pelo líder da extrema-direita italiana, Matteo Salvini, para integrar a aliança de partidos europeus nacionalistas que pretende formar no Parlamento Europeu. Orbán disse que ainda não decidiu em que bancada se sentará o partido, indicando que colaborará com quem queira travar a imigração.."A vitória significa que os húngaros nos deram a tarefa de impedir a imigração através da Europa", disse Orbán aos apoiantes em Budapeste. E explicou ainda que os húngaros querem que o Fidesz "protegesse a cultura cristã na Europa"..Jaroslaw Kaczynski.O partido Lei e Justiça (PiS) conquistou 45,6% dos votos, mais 14 pontos percentuais do que em 2014, ficando a sete pontos da coligação da oposição..O partido de Jaroslaw Kaczynski, ex-primeiro-ministro polaco, apresentou estas eleições como um combate contra os ideiais liberais ocidentais, que considera põem em risco o estilo de vida tradicional dos polacos. Um país de maioria católica,.As eleições europeias são um bom augúrio para as eleições legislativas do final deste ano, que podem contribuir para um isolamento ainda maior da União Europeia, com denúncias de que o partido está a caminhar para o autoritarismo.."Temos que nos lembrar que a batalha decisiva para o futuro do nosso país vai decorrer no outono"; disse Kaczynski aos apoiantes..Um novo partido progressista, liderado pelo primeiro deputado assumidamente homossexual, Robert Biedron, conseguiu 6%..Pedro Sánchez.Os socialistas espanhóis foram os vencedores das europeias, alcançando 33% dos votos (ligeiramente superior ao valor que tinham tido nas gerais de há um mês). O partido tinha até agora 13 eurodeputados e ficará com 20, podendo tornar-se na maior força parlamentar do grupo social-democrata do Parlamento Europeu (diante da queda dos parceiros na Alemanha, França, Itália ou Reino Unido).."É um orgulho, uma oportunidade, mas também uma enorme responsabilidade", afirmou Sánchez..A vitória foi reforçada pelo bom resultado do partido nas eleições autonómicas e municipais, que decorreram em paralelo, apesar de alguns reveses para os socialistas em Madrid -- onde a direita poderá de novo governar..Ska Keller."Muito obrigada pela vosse confiança nos Verdes", disse Ska Keller, uma das candidatas dos Verdes ao cargo de presidente da Comissão Europeia. "Este é um mandato pela verdadeira mudança: pela proteção do clima, uma Europa Social, mais democracia e um estado de direito mais forte", acrescentou..Os Verdes tiveram bons resultados em vários países, conseguindo duplicar a sua percentagem de votos só na Alemanha, ficando em segundo lugar nas eleições -- atrás apenas da CDU da chanceler Angela Merkel..Mas os resultados também foram bons em França, Finlândia ou Luxemburgo, onde ficaram em segundo ou terceiro lugares. Contudo, a "onda verde" é limitada geograficamente, visto não terem conseguido qualquer voto no Leste da Europa ou no Sul e um número reduzido no Centro (a exceção é a Áustria, onde elegeram dois deputados)..Os Verdes europeus elegeram pelo menos 69 deputados (em 2014 tinham sido 52)..Sebastian Kurz.O partido do primeiro-ministro, o Partido Popular Austríaco (ÖVP), foi o mais votado nas europeias, mas isso não impedirá que Sebastian Kurz perca uma moção de censura no Parlamento austríaco..Isto depois de o seu antigo partido de coligação, a extrema-direita do Partido da Liberdade (FPO), cujo líder está envolvido numa polémica de troca de contratos governamentais por dinheiro, ter decidido votar ao lado da esquerda para fazer cair o governo..As eleições serão em setembro e até lá Kurz tentará afastar-se do escândalo que fez cair o vice-chanceler Heinz-Christian Strache..Carles Puigdemont.O ex-presidente da Generalitat, que trocou Espanha pela Bélgica para evitar o julgamento por rebelião e sedição na organização do referendo de 1 de outubro de 2017 e consequente declaração unilateral de independência, foi eleito para o Parlamento Europeu. Não foi o único independentista: Oriol Junqueras, líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que está em prisão preventiva a aguardar o decorrer do julgamento, também foi eleito..Na luta entre rivais, Puigdemon conseguiu 28% dos voos na Catalunha, frente aos 21% do líder da ERC. Resta saber contudo se o ex-presidente da Generalitat poderá ou não assumir o cargo. Tudo porque terá que ir a Madrid para oficializar a vitória, sendo que arrisca ser preso de voltar a Espanha. Puigdemont insiste que a partir do momento que é eleito está protegido ao abrigo da imunidade parlamentar..Silvio Berlusconi.Aos 82 anos, e dias depois de ser operado, o ex-primeiro-ministro italiano prepara-se para fazer a sua estreia na União Europeia, depois de ter sido eleito eurodeputado e cinco anos depois de ter sido afastado do Parlamento italiano..Silvio Berlusconi regressou à política ativa depois de um tribunal ter levantado a proibição de concorrer a cargos públicos, devido a bom comportamento. O ex-primeiro-ministro foi condenado por fraude fiscal, tendo também sido envolvido em vários escândalos, como as festas sexuais..A Força Itália elegeu sete eurodeputados..Niyazi Kizilyurek.Os eleitores da ilha dividida de Chipre (na União Europeia desde 2004) elegeram pela primeira vez um cipriota turco, Niyazi Kizilyurek, para o Parlamento Europeu. Kizilyurek, professor na Universidade de Chipre no departamento de Estudos do Médio Oriente e Turquia de 60 anos, estava em segundo lugar nas listas do AKEL, com origem no Partido Comunista, e que garantiu a segunda posição no escrutínio logo a seguir ao conservador União Democrática (DISY), do presidente Nicos Anastasiades..VENCIDOS.Alexis Tsipras.Depois de a Nova Democracia ter ficado à frente do Syriza nas eleições europeias, o primeiro-ministro grego anunciou a antecipação das eleições gerais no país. Previstas para outubro, as eleições devem acontecer ainda em junho.."Os resultados não correspondem às nossas expectativas... Não os vou ignorar nem desistir", garantiu Tsipras a partir da sede do Syriza em Atenas. O primeiro-ministro tinha apresentado estas eleições (além das europeias, gregos votaram nas locais e regionais) como uma moção de confiança sobre as medidas sociais anunciadas após a saída do país do resgate negociado com os credores internacionais..A Nova Democracia venceu as europeias com 33,3% dos votos, frente aos 23,7% do Syriza..Geert Wilders.O líder da extrema-direita holandesa, o Partido pela Liberdade, anti-islâmico e eurocético, foi um dos derrotados destas eleições, tendo perdido o seu lugar no Parlamento Europeu. Em 2015 tinham conquistado quatro lugares..Aliado de Le Pen e de Salvini, Wilders esperava beneficiar do crescimento destes partidos, mas acabou derrotado. O líder da extrema-direita poderá contudo regressar ao Parlamento Europeu antes das próximas eleições: depois do Brexit, a Holanda vai ter direito a três novos deputados e um deles caberá ao Partido pela Liberdade..Na Holanda, o grande vencedor foram os trabalhistas de Frans Timmermans, candidato do grupo dos Socialistas & Democratas à presidência da Comissão Europeia..Luigi di Maio.O Movimento 5 Estrelas perdeu o título de partido mais votado em Itália, ficando atrás não só da Liga (parceiro de governo), mas também do Partido Democrático, e ainda não é certo o impacto que isso poderá ter na coligação governamental..Lugi di Maio, vice-primeiro-ministro, garante que o governo continuará como até agora, sem uma remodelação governamental. Apesar de Di Maio ter apontado o dedo à fraca participação, há já quem diga em Itália que ele é um líder do passado..O Movimento 5 Estrelas teve 17% dos votos, com a Liga a ter 24% e o PD 22%..Emmanuel Macron.O presidente francês envolveu-se diretamente na campanha e ficar atrás de Marine Le Pen, mesmo que por pouco, só pode ser considerado uma derrota. Mesmo que venha a ter um papel essencial para a formação de alianças na União Europeia..O La Republique en Marche elegeu 23 eurodeputados (o partido é novo, por isso não tinha qualquer representação no Parlamento Europeu) e será a principal força dentro do liberais do ALDE, dando a Macron uma plataforma importante para ter uma voz ativa na Europa..Tories e Labour.Os eleitores britânicos castigaram os partidos tradicionais com o seu voto por causa do Brexit e da falta de resolução quanto à saída do Reino Unido da União Europeia..O partido conservador, de Theresa May, foi o mais prejudicado, com apenas 9% dos votos e uma queda de quase 15 pontos percentuais em relação a 2014. Já o Labour de Jeremy Corbyn, criticado por uma posição dúbia em relação ao Brexit, caiu 11 pontos percentuais, ficando nos 14%..Andrea Nahles.O Partido Social-Democrata alemão, liderado por Andrea Nahles, sofreu uma dupla derrota este domingo, caindo mais de 12 pontos percentuais nas europeias e perdendo as eleições no estado de Bremen, que governavam há 73 anos..Nas europeias, o partido ficou não apenas atrás dos conservadores de Angela Merkel (que também perdeu votos) como dos Verdes (pela primeira vez num voto nacional). O resultado poderá significar o fim da liderança de Nahles, mas também aumentar os apelos para que o partido rompa a coligação do governo, onde apoia Merkel.