Dinko tornou-se superherói a "caçar" refugiados
Corretor de profissão e wrestler semi-profissional, o búlgaro de 29 anos dedica os tempos livres a perseguir migrantes na fronteira com a Turquia. Um programa de TV tornou-o famoso.
Dinko Valev é corretor na Bolsa, mas nos tempos livres, este lutador de wrestling semi-profissional e o grupo de amigos patrulham a fronteira entre a Bulgária e a Turquia para impedir a entrada de imigrantes. Se a sua fama já chegara aos migrantes que fogem da guerra na Síria à procura de vida melhor na Europa, foi um programa de televisão que no mês passado fez dele uma espécie de "superherói" aos olhos de muitos búlgaros. E uma figura detestável aos olhos de outros tantos.
Cabeça rapada, musculoso e com o peito coberto por várias tatuagens, entre elas uma cruz gigante no lado esquerdo, Valev, de 29 anos, surgiu num programa da bTV a contar como dias antes conseguir "controlar" um grupo de sírios - 12 homens, três mulheres e uma criança - "com as próprias mãos". As imagens do momento foram captadas por um dos companheiros de Valev com o telemóvel e mostram o grupo de migrantes sentados no chão à espera da chegada da polícia e o corretor a acusá-los de terem vindo da Síria "para nos matar como cães".
Depois da reportagem da bTV, a história de Valev chegou aos media internacionais, do grego Greek Reporter ao italiano pagina99, passando pela BBC. O jornalista Matthew Brunwasser, da televisão estatal britânica, conversou com Valev em Yambol, a cidade onde este viev, a 50 quilómetros da fronteira. Na esplanada de um café, onde bebeu um sumo de laranja, o vigilante explicou que os refugiados são "pessoas nojentas, que deviam ficar onde estão". Segundo ele, 95% dos búlgaros apoiam a sua ideia de que os migrantes são perigosos "terroristas, jihadistas e talibãs".
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A verdade é que o governo búlgaro já construiu um muro na fronteira para impedir a entrada de refugiados e tem procurado aumentar a sua extensão. Em 2015, mais de um milhão de migrantes entraram na Europa pela Rota dos Balcãs, destes apenas 90 mil terão passado pela Bulgária.
A retórica incendiária de Valev e a sua exposição mediática já levou mais de duas centenas de pessoas a juntar-se à sua patrulha de voluntários. Mas também lhe trouxe críticas e problemas com a justiça. A ONG de defesa dos direitos humanos Helsinki Committe búlgara já pediu mesmo a abertura de uma investigação a Valev por se ter vangloriado na televisão de uma dúzia de crimes: agressão, ameaças de morte, detenção ilícita, incitamento ao ódio racial e à violência.
O wrestler garantiu ter agido em auto-defesa, depois de um dos refugiados o ter tentado esfaquear. E quando foi levado pela polícia para interrogatório, há dias, pelo menos 30 pessoas juntaram-se frente à esquadra a gritar: "Dinko é um herói!" e "Não queremos migrantes!" E parece já ter feito escola: o presidente da câmara da vizinha Topolovgrad já pediu ao Ministério da Defesa equipamento militar para criar a sua própria milícia.