Mundo
09 novembro 2019 às 16h11

Catalunha. 40 mil € da 'Caixa de Resistência' levados por quem deixou o acampamento

Fratura no acampamento independentista frente à Universidade de Barcelona. Jovens que ficaram são anarquistas ou de grupos ambientalistas e de defesa dos animais

DN/Lusa

Grupos organizados e os jovens "mais ligados ao parlamentarismo" levaram os fundos da "Caixa de Resistência" e abandonaram o acampamento de protesto que se mantinha há vários dias junto à Universidade no centro de Barcelona. Quem ficou diz que levaram cerca de 40 mil euros que haviam arrecadado desde o primeiro dia da mobilização.

"Eu já sabia que isto ia acontecer. Os estudantes ligados aos partidos políticos e sindicatos decidiram ir-se embora e levaram o dinheiro ("Caixa da Resistência") que financiava os gastos do acampamento", disse à Lusa um membro de uma organização anarquista que se mantém numa tenda instalada na Praça da Universidade.

Estima-se que mais de trinta tendas tenham sido desmontadas e que mais de 150 manifestantes, sobretudo universitários, abandonaram o local.

"Na verdade, isto [o acampamento] teve como origem o movimento independentista. No início, os estudantes conseguiram um pacto com a reitoria para poderem faltar às aulas, há mais de duas semanas. O prazo vai acabar na segunda-feira. Por isso, começaram a sair", disse o mesmo anarquista catalão, insistindo que sem "Caixa de Resistência" o protesto vai acabar por dissolver-se.

Mesmo assim, as barricadas que cercam a praça continuam montadas e muitas tendas continuam no local, tendo ficado os ativistas "mais desfavorecidos socialmente" porque os estudantes "da classe média e ligados ao sistema partidário", sobretudo da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) desmontaram as tendas.

Os jovens que ficaram pertencem a organizações anarquistas ou a movimentos inorgânicos ligados a causas como a defesa dos animais ou o meio ambiente.

Muitas bandeiras visíveis na sexta-feira desapareceram assim como cartazes e estandartes com frases independentistas.

"Eles querem deixar espaço ao Tsunami Democrático", diz o mesmo anarquista.

Tusnami convoca jornada de desobediência civil

Paralelamente ao acampamento que tinha características políticas muito diversificadas, porque juntava partidos formais e grupos inorgânicos, está a ser promovido pelo grupo Tsunami Democrático uma jornada que classificam de "desobediência civil" no dia de reflexão eleitoral.

Os avisos de 300 protestos em toda a região autónoma da Catalunha estão a ser difundidos pelas redes sociais, sobretudo no Instagram.

Inicialmente, o ato de "desobediência civil" estava marcado para a Praça da Catalunha, às 16:00 locais (15:00 em Lisboa) mas agora está a ser montado um palco onde vai realizar-se um concerto no âmbito do Tsunami Democrático junto ao acampamento, frente ao edifício principal da Universidade de Barcelona e das tendas que continuam no local.

A distância entre a Praça da Catalunha e a Praça da Universidade é curta, sendo que outros avisos indicam que mais tarde vai realizar-se uma manifestação de protesto igualmente organizada pelo Tsunami Democrático na Praça Urquinaona, igualmente perto da Praça da Universidade.

O Tsunami Democrático é uma organização independentista sem líderes conhecidos que funciona através de redes sociais e que já foi responsabilizada pelos distúrbios das últimas semanas em Barcelona.

Medidas para garantir direito de voto

A Catalunha está a concentrar a atenção política no dia que antecede as eleições gerais. Este sábado, o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, presidiu, na Moncloa, a uma reunião do Comité de Coordenação sobre a situação na Catalunha.

Por seu turno, o ministro do Interior garantiu que foram tomadas as medidas necessárias de forma a garantir o direito de voto a todos os cidadãos. Fernando Grande-Marlaska não especificou, contudo, qual o dispositivo de segurança desenhado para a Catalunha.

As iniciativas de caráter lúdico - concertos, espetáculos infantis, exposições, etc - organizadas pelo Tsunami Democrático em 300 municípios não causam grande preocupação às autoridades, tanto mais que a Junta Eleitoral não proibiu que se realizassem.

No entanto, os serviços de informação catalães já classificaram como de risco a manifestação marcada para as 19 desta tarde (18 em Lisboa), em Barcelona - avança o El País.

Os Mossos de Esquadra contarão com o apoio da Polícia Nacional e da Guardia Civil para manter a ordem, embora antecipem uma jornada eleitoral sem incidentes graves.

A polícia catalã mobilizou para o dia das eleições oito mil agentes para estarem presentes nas mesas de voto dos municípios com mais de quatro mil habitantes. O resto será assegurado por patrulhas dinâmicas.