Maria da Guarda: Criada de raiz para exportar

Repensaram o negócio para rentabilizar a herdade alentejana em 2005. Escolheram o azeite e exportam mais de 95%, a granel, para Itália.
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Numa mesa italiana há sempre azeite. O que grande parte dos consumidores que viajam, consomem e compram azeite italiano provavelmente não sabe é que na etiqueta Produzido na UE há azeite português. O negócio da Herdade Maria da Guarda nasceu para ajudar a preencher as necessidades anuais de Itália, maior exportador de azeite do mundo e um dos maiores produtores mundiais (Espanha produz 36,5%, Itália, 19,7%, Grécia, 16,3%, e Portugal apenas 1,5%).

"Em 2005, quando se aproximava a mudança de geração desta propriedade, surgiu a oportunidade de criar um projeto", conta João Cortez de Lobão - que trabalhou na banca durante dez anos e antes foi jornalista -, a liderar o negócio da Herdade desde o primeiro dia. Historicamente ligada à produção de cereais, foi preciso definir o tipo de agricultura que queriam fazer, aproveitando a água do Alqueva - "um elemento fortíssimo para melhorar a rentabilidade de um trabalho agrícola - e avaliar as várias alternativas possíveis que fossem rentáveis e vendáveis em mercado internacional. "Nasceram as ideias do vinho e do azeite e no fim ganhou a segunda", diz o responsável. Escolheram o azeite pelo alto consumo em todo o mundo e pelas características extraordinárias de Portugal na produção de azeitona.

"Temos água e solo de grande qualidade e muitas horas de sol, que compõem a equação perfeita para produzir dos melhores azeites do mundo a um preço muito competitivo", detalha João. A herdade arrancou com a produção em 60 hectares mas hoje tem 600 a produzir um milhão de quilos de azeite/ano, já em lagar próprio e mecanizado. O crescimento acompanhou a aposta nacional em olival para azeite: em 2013, Portugal produziu 627 mil toneladas de azeitona para azeite, a maior produção desde a década de 1960, de acordo com dados no INE.

Depois de decidirem o setor do negócio, a equipa da Maria da Guarda nem precisou de começar a procurar clientes, tal é a procura mundial: exportam cerca de 95% da produção total, sobretudo para Itália, e engarrafam uma pequena quantidade do azeite que produzem com a marca Lagaretta. O processo de investimento de 15 milhões de euros, que começou em 2005, terminou neste ano com a conclusão de duas linhas de produção independentes, que contempla um lagar para clientes e outro para produção própria.

"Queríamos produzir muito azeite de grande qualidade a um preço muito competitivo para poder viver no mercado aberto. A partir daí, podemos vender o nosso azeite a granel ou embalado. Fomos optando por fazer parte da equação azeite a granel porque permite receber a pronto e entregar o azeite depois", esclarece. O azeite embalado, explica, tem um prazo de cobrança muito maior "que complica para quem já fez um ano de investimento até à colheita e depois ainda tem de esperar três a seis meses para receber". "Exige um esforço de capital muito maior com uma margem que nem sequer é muito atrativa", assegura João Cortez de Lobão. Certo é que com uma exportação perto de 100% não há maneira de pôr uma bandeira portuguesa em cada garrafa exportada para o mundo. "É um custo do negócio, um nome italiano vendido como produto da UE para mais de 200 mil restaurantes em países de todo o mundo. Aquece-nos o coração saber que, de uma maneira ou de outra, o azeite português vai enriquecer a refeição de alguém em Pequim, em Buenos Aires ou em Nova Iorque."

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