Israelita processa Airbnb por proibir anúncios de alojamentos em colonatos

Uma colona israelita está a processar a plataforma de reserva de alojamento 'online' Airbnb por ter proibido anúncios de alojamentos situados em colonatos da Cisjordânia, atendendo o apelo das autoridades israelitas para contestar a decisão.
Publicado a
Atualizado a

Ma'anit Rabinovich, que anunciava o seu apartamento num colonato na Airbnb, apresentou hoje uma queixa judicial contra a empresa 'online' num tribunal de Jerusalém, argumentando que a decisão desta de proibir anúncios de alojamentos em colonatos na Cisjordânia -- território palestiniano ocupado por Israel - representa "uma discriminação grave, ofensiva e escandalosa".

No processo, em que exige uma indemnização de 15.000 shekels (3.500 euros) por danos sofridos, Rabinovich refere também outros territórios disputados onde a Airbnb continua a operar, como o Tibete e a República Turca de Chipre do Norte, entre outros.

A plataforma de arrendamento 'online' fez saber na segunda-feira que iria retirar 200 anúncios de alojamentos situados em colonatos israelitas, depois de ter sido pressionada nesse sentido por cidadãos palestinianos e grupos de direitos humanos.

A Cisjordânia é ocupada pelo exército israelita há mais de 50 anos. Os colonatos são ilegais à luz do direito internacional e a comunidade internacional considera-os um dos principais obstáculos à paz entre palestinianos e israelitas, o que é contestado pelo Governo de Israel.

Num relatório divulgado na segunda-feira, intitulado "Cama e Pequeno-Almoço em Terra Roubada", a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) e a organização não-governamental israelita Kerem Navot apontam a discriminação de que são alvo os cidadãos palestinianos, já que, ao contrário dos cidadãos israelitas e estrangeiros, não têm acesso a alojamentos nos colonatos, simplesmente por terem documentos de identificação palestinianos.

Mesmo os proprietários palestinianos de terrenos não podem ficar em casas construídas nas suas próprias terras, denunciam as duas organizações no documento, que listou 139 alojamentos propostos pela Airbnb nos colonatos da Cisjordânia entre março e julho de 2018.

Dezassete desses alojamentos foram construídos em terrenos que as autoridades israelitas reconheceram pertencerem a palestinianos antes de serem apreendidos, indica o relatório, adiantando que em julho 76 alojamentos na Cisjordânia ocupada apareciam como estando localizados dentro de Israel.

A decisão da Airbnb de deixar de propor alojamentos em colonatos na Cisjordânia desencadeou ameaças de sanções por parte de Israel, e o próprio ministro do Turismo israelita, Yariv Levine, encorajou os cidadãos israelitas a processarem a plataforma pela "hipócrita e revoltante" atitude adotada.

Por seu lado, um alto responsável palestiniano, Saeb Erakat, considerou, num comunicado divulgado na segunda-feira, que a decisão da Airbnb "constitui um primeiro passo positivo", assinalando que "os colonatos na Cisjordânia, incluindo em Jerusalém oriental, são ilegais e constituem um crime de guerra", de acordo com o "direito internacional".

O Governo israelita, considerado o mais à direita da história do país, combate há anos tudo o que se assemelhe a uma ação de boicote, que identifica como uma ameaça estratégica e denuncia como pondo em causa a legitimidade de Israel.

Cerca de 430.000 colonos israelitas coexistem de modo conflituoso com mais de 2,5 milhões de palestinianos na Cisjordânia, ocupada desde 1967 por Israel. Em Jerusalém Oriental, ocupada e posteriormente anexada, vivem perto de 200.000 israelitas.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt