Setor gráfico português aposta nas exportações para recuperar após anos de crise

A indústria gráfica e transformadora do papel portuguesa, atualmente a recuperar do impacto da crise económica, fatura 2.000 milhões de euros e emprega mais de 26.000 trabalhadores, apostando nas exportações para compensar um mercado doméstico estagnado.
Publicado a
Atualizado a

Em entrevista à agência Lusa no dia em que a Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas e Transformadoras do Papel (Apigraf) atribui os Prémios de Excelência Empresarial 2017 - que distinguem anualmente as empresas do setor com melhor performance - o seu presidente afirmou-se "otimista" quanto ao futuro da indústria, após dois anos a crescer na ordem dos 1,5 a 2% ao ano.

"O nosso setor reflete em primeira linha as crises, porque é um setor de prestação de serviços, industrial, que está muito ligado à indústria propriamente dita. Naturalmente sofreu com a crise, tivemos um ajustamento, com encerramentos de empresas, mas neste momento está a subir, acompanhando o ritmo europeu, e desde há dois anos que estamos a crescer e a recuperar postos de trabalho", afirmou Lopes de Castro.

Depois de ter chegado a apresentar um volume de negócios pré-crise na ordem dos 2,5 mil milhões de euros, a indústria gráfica e transformadora de papel portuguesa "desceu bastante" após 2008, num contexto em que o setor, a nível europeu, "perdeu em média, numa década, 20% de trabalhadores, 30% de volume de negócios e 9% de empresas".

"Em Portugal a perda de empresas foi ligeiramente superior, e em Espanha chegou a 30%", afirmou o presidente da Apigraf, salientando, contudo, que a indústria nacional já recuperou entretanto para os 2.000 milhões de euros de faturação, representando atualmente cerca de 4% do total das indústrias transformadoras em Portugal.

"Ao todo -- adianta a associação - as 2.757 empresas do setor concentram 4% dos trabalhadores da indústria transformadora, num total de mais de 26.000 trabalhadores".

Descrito como um setor de âmbito geográfico "nacional, que cobre o país todo, incluindo ilhas, apesar de estar mais concentrado no Grande Porto, Grande Lisboa e zona centro", a indústria gráfica e transformadora de papel está a apostar nas exportações para acelerar o crescimento, dada a relativa "estagnação" do mercado doméstico.

"O setor está à procura de novos mercados, porque obrigatoriamente o crescimento assenta na exportação", sustentou Lopes de Castro, destacando o peso das vendas para "zonas geográficas de proximidade, como Espanha e França", e a "relação muito interessante com os países de expressão portuguesa em África", designadamente Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde.

"Marrocos é um mercado novo para o setor que está em crescendo", acrescentou, adiantando que, atualmente, as exportações da indústria valem 600 milhões de euros, "dos quais metade é exportação direta e a outra metade é exportação indireta".

Conforme explicou, as exportações indiretas refletem a estreita relação da indústria gráfica portuguesa com outros setores da economia nacional, como o calçado, o têxtil ou os vinhos, "que levam atrás deles, na exportação, um componente muito interessante de artes gráficas nas caixas, rótulos e etiquetas".

Os segmentos das embalagens, rótulos e etiquetas são precisamente apontados por Lopes de Castro como os mais dinâmicos no setor, em contraponto com o dos jornais e revistas, que desde há alguns anos estão em quebra.

"O [segmento do] livro, que andou a descer uns anos, está estranhamente a subir desde o ano passado, o que é uma excelente notícia e um fenómeno interessante a nível europeu (admito que até mundial). Temos que perceber como conseguiu inverter a descida", sustentou o presidente da Apigraf.

Assumidamente "otimista" quanto à evolução do setor nos próximos três a cinco anos, Lopes de Castro avança dados da Intergraf - Confederação Europeia da Indústria Gráfica que apontam para um reforço da indústria a nível europeu, que Portugal "está a acompanhar" mesmo que a um ritmo inferior ao registado, por exemplo, nos países bálticos, onde o setor está "muito dinâmico, com empresas a nascer todos os dias".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt