Brasil/Eleições: Brasileiros desiludidos apoiam Bolsonaro no berço político do PT

A cidade brasileira que alberga o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC onde ocorreu a fundação simbólica do Partido dos Trabalhadores (PT), São Bernardo do Campo, tornou-se um reduto eleitoral do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro nas presidenciais de 2018.
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Foi nesta cidade que o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ícone da esquerda e fundador do PT, projetou a sua figura política liderando greves de metalúrgicos durante a ditadura militar.

O mesmo sindicato serviu de 'bunker' para Lula da Silva voltar a aproximar-se da militância nos três dias em que o antigo chefe de Estado resistiu à ordem de prisão decretada contra si em abril.

Diogo Leal da Rocha, de 35 anos, funcionário de uma barbearia localizada a menos de 20 metros do Sindicato dos Metalúrgicos disse à Lusa que votará no candidato de extrema-direita porque está desiludido com o PT e quer mudanças no país.

"Eu votei no Bolsonaro e vou continuar a votar nele porque quero uma mudança no país. Acho que esta mudança já deveria ter acontecido há quatro anos. Já votei no PT, já votei no Lula [da Silva], mas acredito que o PT não deu conta do país. O Brasil tem infraestrutura para gerar trabalho e não sofrer com a economia como acontece hoje", disse.

"Vejo que o Jair Bolsonaro não é perfeito, mas as propostas dele, que não tem experiência nem projeto nenhum aprovado [no Congresso] são melhores do que as de um candidato que foi julgado e não está livre para concorrer. O que temos hoje é um representante do Lula [da Silva] na eleição, o Haddad, e por isto prefiro votar no Bolsonaro", acrescentou.

O barbeiro explicou que mora em Santo Bernardo do Campo desde que nasceu e que a sua família era formada por eleitores do PT que agora vão votar em Bolsonaro.

"O PT diz que defende os pobres, mas o foco é outro (...) No primeiro mandato do Lula [da Silva] eu votei nele, agora sou como muitos que deixaram de votar nele pelo que prometeu e não cumpriu", afirmou.

O comerciante Vailton Alves de Sá, de 52 anos, também disse ter trocado o PT por Bolsonaro.

"Decidi voltar no Bolsonaro porque o país precisa de mudança. A crise [económica] está muito grave. Sou morador de São Bernardo do Campo há 32 anos e vejo hoje muitos comércios a fechar. Sempre votei nos candidatos do PT, mas a situação do país está muito difícil e precisamos superar esta dificuldade", disse.

O vendedor José Celso Vieira da Silva, de 51 anos, é outro eleitor que tem intenção de votar Bolsonaro, embora tenha apoiado Geraldo Alckmin, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que ficou em quarto lugar na primeira volta das eleições.

"Vou votar no Bolsonaro porque há 16 anos que o PT está a governar o Brasil, chega. Precisamos trocar o comando. O ex-Presidente Lula da Silva já está na cadeia. A corrupção neste país está demais, então vamos mudar", referiu.

"Eu nunca fui eleitor do PT, sou 'antipetista'. O ex-Presidente Lula da Silva que hoje está preso radicou-se aqui em São Bernardo do Campo. Ele era sindicalista, fez de tudo e tirou as montadoras [fábricas] de carros daqui da cidade. Ele comandou o país em benefício próprio e a população está revoltada", acrescentou.

Na reportagem, a Lusa encontrou poucas pessoas que declararam abertamente o voto em Haddad, candidato do PT que enfrentará Bolsonaro na segunda volta das presidenciais no domingo.

Gericleide Cordeiro de Lima, de 46 anos, proprietária de uma loja de produtos nordestinos localizada no centro da cidade, explicou que é eleitora do PT, mas tem dúvidas e ainda não definiu em qual candidato votará.

"Eu sempre votei no PT. Este ano eu decidi votar no PT na primeira volta para ver o que ia dar. Agora na segunda volta, sinceramente tem tanta coisa acontecendo que estou um pouco perdida. Não sei mais se vou votar no Haddad, estou apreensiva", contou.

Já a música Lisa Vieta, de 19 anos, defendeu o voto em Haddad, embora tenha mencionado que optou pelo candidato Ciro Gomes do Partido Democrático Trabalhista (PDT), terceiro mais votado na primeira volta das presidenciais.

"Agora eu sou eleitora do Haddad. Por todas as questões envolvidas, da educação à política, eu acho que as pessoas estão enganadas e vão votar influenciadas por informações falsas que podem colocar o país numa zona de guerra", frisou.

"Até arrumei confusão com a minha mãe. Ela sempre votou no PT, mas agora vai votar no Bolsonaro influenciada pelas coisas que as pessoas falam e mandam no WhatsApp. Muita gente que eu conheço, por exemplo, no meu prédio, fica trocando mensagens em grupos no WhatsApp em favor do Bolsonaro. Acho que vão se arrepender", concluiu.

Na primeira volta das presidenciais brasileiras, Bolsonaro obteve 46,03% dos votos em São Bernardo do Campo, quase o dobro da percentagem alcançada por Haddad, que conquistou a preferência de 23,91% dos eleitores.

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