Cerca de um milhão de pessoas estão em perigo de vida, ameaçadas por uma "fome catastrófica", por causa da falta de ajuda humanitária e, em particular, pela seca devastadora no Corno de África, preveniu a ONU..Este número provém de um relatório publicado na quarta-feira pela agência da Organização das Nações Unidas para a alimentação e agricultura FAO, na sigla em Inglês) e pelo Programa Alimentar Mundial, por ocasião da assembleia geral da ONU em Nova Iorque..Este balanço detalha a situação de 19 países considerados os principais pontos problemáticos da fome no mundo pela ONU, entre os quais Afeganistão, Etiópia, Nigéria, Sudão do Sul, Somália e Iémen..Nestes seis países, 970 mil pessoas devem verificar, até janeiro de 2023, os critérios relativos à fase 'catástrofe', a mais elevada da classificação da insegurança alimentar..Corresponde a situações nas quais "a fome e a morte são uma realidade quotidiana e onde níveis extremos de mortalidade e má nutrição podem ocorrer na ausência de ação imediata"..Esta estimativa é dez vezes mais elevada do que a feita há seis anos, o que é atribuído "ao efeito dos conflitos, das alterações climáticas e da instabilidade económica agravada pela pandemia do novo coronavírus e pelas repercussões da crise na Ucrânia"..O secretário-geral da ONU afirmou ter chegado a "hora de uma discussão séria" sobre as alterações climáticas e de tomar "ações significativas" contra os danos já causados, sobretudo nos países em desenvolvimento..António Guterres falava na quarta-feira, durante uma reunião com vários líderes de países desenvolvidos e em desenvolvimento, incluindo o Presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sissi, país que vai receber em novembro a conferência da ONU sobre mudanças climáticas COP27.."Chegou a hora de ter uma discussão séria e ações significativas sobre esta questão", insistiu Guterres.."As minhas mensagens foram claras. Sobre a emergência climática: a meta de mais 1,5°C [graus Celsius] está ligada ao ventilador. E a falhar rapidamente", disse o português..Numa referência à meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C em comparação com a era pré-industrial, fixada no Acordo de Paris em 2015, Guterres avisou que o mundo está "a caminhar" para um aquecimento de 3°C..O líder da ONU pediu aos governos que, até à COP27, ataquem frontalmente "quatro problemas urgentes": fixar metas de redução de emissões mais ambiciosas, ajudar os países mais vulneráveis, adaptar-se e procurar financiamento para os impactos e lidar com "as perdas e danos"..Este último ponto, um elemento crucial nas negociações sobre o clima, diz respeito aos danos já causados pela multiplicação de eventos climáticos extremos, pelos quais os países em desenvolvimento estão a exigir compensação aos Estados mais ricos.."Espero que a COP27 no Egito aborde" o tema, acrescentou o secretário-geral da ONU, defendendo tratar-se de uma questão de "justiça climática, solidariedade internacional e criação de confiança"..Na anterior conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a COP26 em Glasgow, no final de 2021, os países ricos rejeitaram as exigências dos Estados em desenvolvimento de financiamento específico para compensar as perdas e danos já causados..Esta semana, um grupo de países em desenvolvimento, reunidos em Dakar, voltou a fazer a mesma reivindicação, pedindo a criação de um "mecanismo de financiamento" para lidar com os danos causados pelas mudanças climáticas..Outra meta fixada em Paris, em 205, foi a redução das emissões de gases poluentes em 45% até 2030..Na reunião de quarta-feira, António Guterres exortou os líderes do G20 a acabarem com a dependência dos combustíveis fósseis.."A indústria de combustíveis fósseis está a matar-nos e os líderes não estão em sintonia com os cidadãos", alertou o líder da ONU, que pediu "a eliminação do carvão existente e apoio à revolução das energias renováveis".