Com as lideranças do invasor e do invadido entretidas em visitas às suas tropas, as forças russas aumentaram ainda mais a pressão em torno de Bakhmut enquanto Kiev continua a desesperar pela chegada de armamento e de munições. Sobre as últimas, a fuga de informações de documentos classificados norte-americanos mostra os esforços aparentemente bem-sucedidos para impedir o Egito de fornecer Moscovo e de fabricar projéteis tendo como destino Kiev..Uma avaliação feita pela Economist à anunciada contraofensiva ucraniana, de que só cinco militares sabem os planos na totalidade, deixa mais interrogações do que certezas. Segundo a publicação britânica, as forças ucranianas estarão a agrupar-se em pelo menos 12 brigadas - embora possam chegar às 18 - sendo que a dúzia de brigadas terá ao dispor mais de 200 tanques, 800 veículos blindados e 150 peças de artilharia, números que podem ser insuficientes para virar o jogo, até porque as tropas russas estão na defensiva - à exceção das direções de Bakhmut e de Avdiivka - atrás de campos minados e com obstáculos..Às questões estratégicas e táticas junta-se a escassez das munições. Os aliados de Kiev foram apanhados com os paióis esvaziados e são públicas as iniciativas para tentar convencer países como a Coreia do Sul ou Israel a fornecerem munições à Ucrânia, enquanto do lado russo foram noticiadas - e desmentidas - entregas da Coreia do Norte, além dos drones de fabrico iraniano. A fuga de informação atribuída ao jovem militar norte-americano Jack Teixeira oferece novos pormenores sobre as tentativas de um lado e do outro do conflito para obter mais poder de fogo..No caso, o Egito dirigido com punho de ferro por Abdel Fatah El-Sisi está no centro da história. O The Washington Post já tinha publicado os planos, datados de fevereiro, do líder egípcio em vender à Rússia 40 mil foguetes Sakr-45 que iriam servir os lança-foguetes de lançamento múltiplo russos. Na altura, Sisi deu instruções para se manter o negócio em segredo para "evitar problemas com o Ocidente"..O Egito tenta cultivar boas relações tanto com o Ocidente - os EUA prestam assistência militar anual superior a mil milhões de dólares - como com a Rússia, de onde importa cereais, equipamento militar, cada vez mais fuelóleo (combustível barato e poluente que permite gerar eletricidade mais barata e poder exportar mais gás), além da construção em curso de uma central nuclear. Depois da invasão da Rússia à Ucrânia, o Cairo votou nas Nações Unidas ao lado da maioria dos países pelo fim da ocupação russa, mas manteve-se neutro. Agora sabe-se que esta posição não é assim tão transparente..Com os serviços de espionagem norte-americanos a relatar em meados de fevereiro as informações recolhidas - incluindo a frase do ministro da Produção Militar Salah al-Din ao presidente de que os russos estavam prontos para "comprar qualquer coisa" -, Washington enviou dois altos funcionários ao Cairo ainda no final de fevereiro e depois, já no início de março, foi a vez do secretário da Defesa Lloyd Austin..Já era público que este tinha pedido munições de artilharia para a Ucrânia, mas desconhecia-se o resultado da iniciativa. Agora, segundo os documentos analisados pelo The Washington Post, a pressão norte-americana vingou, não só evitando a produção e venda de foguetes à Rússia mas também conseguindo a aprovação da venda de munições de 152 mm e 155 mm, este último o calibre padrão de artilharia da NATO. No entanto, o regime de Sisi pretende em troca vir a adquirir aviões de caça F-35 e o sistema de defesa aérea Patriot..Um sorridente Zelensky versus um glacial Putin é uma das leituras possíveis das visitas de ambos os líderes às respetivas tropas. Na segunda-feira, o russo deslocou-se pela segunda vez a territórios ocupados, depois de ter estado na Crimeia e em Mariupol em março..Desta vez chegou de helicóptero à região de Kherson, tendo o vídeo oficial mostrado a placa de acesso a Henichesk, a localidade costeira que as forças ocupantes designaram de capital da região depois de expulsos da cidade de Kherson, e fora do alcance da artilharia ucraniana. Depois terá ido para Lugansk, embora as imagens só comprovem que se reuniu com o comandante da região Alexander Lapin. Kiev disse que depois do anúncio da visita, o centro de Kherson foi bombardeado, tendo morrido uma pessoa e ferido outras nove..A resposta à ""viagem especial" do autor dos assassínios em massa", segundo o conselheiro presidencial Mikhailo Podolyak, "para desfrutar dos crimes dos seus lacaios pela última vez", foi uma viagem de Zelensky a Avdiivka, perto da cidade de Donetsk, ocupada por Moscovo..O embaixador da Rússia nas Nações Unidas anunciou que o chefe da diplomacia Sergei Lavrov já recebeu o visto para se deslocar até Nova Iorque. Segundo Vasily Nebenzya, o ministro dos Negócios Estrangeiros irá não só presidir a duas reuniões do Conselho de Segurança mas também reunir-se com o secretário-geral da ONU. Com António Guterres o tema a tratar em especial será a prorrogação do acordo dos cereais do Mar Negro. Nebenzya disse que as perspetivas da renovação do acordo "não são boas", uma vez que o seu país, apesar de poder em teoria exportar alimentos e fertilizantes, tem dificuldades em fretar navios..cesar.avo@dn.pt