Netanyahu "pausa" reforma judicial para dialogar e evitar "guerra civil"

Após uma noite de protestos e de uma greve geral do maior sindicato, primeiro-ministro chegou a acordo com a extrema-direita e adiou a aprovação da polémica reforma por um mês.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de adiar pelo menos até maio a aprovação da polémica reforma judicial, depois de protestos sem precedentes em Israel. "Estou a fazer uma pausa para dar uma oportunidade ao verdadeiro diálogo", afirmou, criticando uma "minoria extremista que está pronta para dividir o país". A decisão surgiu depois de ter negociado um acordo com o seu parceiro de governo de extrema-direita, Itamar Ben-Gvir: em troca do controlo sobre uma nova força policial, o atual ministro da Segurança Nacional não abandona o executivo e aceita o adiamento. Mas isto não deverá ser suficiente para acalmar as ruas.

"Estamos a enfrentar uma crise que é uma verdadeira ameaça à união nacional do nosso povo", disse Netanyahu já passava das 20.00 em Israel (18.00 em Lisboa). Desde manhã que os israelitas esperavam pelas palavras do primeiro-ministro, mas as declarações foram adiadas várias vezes enquanto o líder do Likud procurava uma solução depois de uma noite de protestos em várias cidades do país. Os manifestantes saíram às ruas em resposta à decisão de Netanyahu de demitir o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que tinha defendido publicamente suspender a reforma.

Diante da pressão das ruas, e depois de o maior sindicato ter decretado greve geral, a ideia de suspender a reforma judicial ganhava força entre os deputados do Likud e outros ministros. Mas a extrema-direita ameaçava sair do executivo e deixar Netanyahu em minoria. Mais, chamou os seus apoiantes às ruas para a defender, havendo mesmo alguns apelos à violência. Ontem à noite, milhares de pessoas juntaram-se próximo do Supremo Tribunal, em Jerusalém, alegando que os "traidores da esquerda" estavam a "roubar a eleição" e exigindo que a reforma avance.

Durante o dia, Netanyahu procurou negociar uma saída para a situação. "Quando existe uma opção de evitar uma guerra civil através do diálogo, eu faço uma pausa para o diálogo", afirmou o primeiro-ministro, adiando os próximos passos da reforma no Knesset (parlamento) até à próxima sessão, que está previsto começar a 30 de abril. Em resposta à decisão de Netanyahu, foi cancelada a greve geral - que, entre outras coisas, tinha levado ao cancelamento de todos os voos a partir do aeroporto Ben Gurion e ao fecho de embaixadas israelitas, incluindo a de Lisboa.

"A reforma vai passar", escreveu no Twitter Ben-Gvir, confiante de que será só uma questão de tempo e congratulando-se com os objetivos alcançados. "A Guarda Nacional vai ser criada. O orçamento que pedi para o Ministério da Segurança Nacional vai passar na sua totalidade", acrescentou. A ideia desta nova força policial, que reforçaria a Polícia de Fronteira e incluiria agentes e voluntários, tem sido defendida por Ben-Gvir para fazer face a uma eventual guerra com os islamitas palestinianos do Hamas. Para os críticos, será uma espécie de milícia que responderá somente ao líder da extrema-direita.

Resposta da oposição

Tanto a oposição como os manifestantes têm defendido a necessidade de duas coisas para abrir a porta ao diálogo: em primeiro lugar um ponto final no processo de aprovação da reforma (e não simplesmente adiar os procedimentos); e depois que Netanyahu olhe para a proposta de acordo apresentada há cerca de uma semana pelo presidente Isaac Herzog. A oposição considerou que este era um bom ponto de partida para negociar, mas tanto o primeiro-ministro como a sua coligação de governo rejeitaram-no totalmente.

"Parar a legislação é a decisão certa", escreveu Herzog num comunicado já depois de Netanyahu falar. "É hora de começar uma conversa honesta, séria e responsável que irá rapidamente acalmar e baixar a tensão", acrescentou. "Em nome da nossa unidade e do futuro das nossas crianças, precisamos de começar a falar aqui e agora", referiu o presidente israelita.

O ex-primeiro-ministro Yair Lapid lembrou as "más experiências" do passado com as promessas de Netanyahu, defendendo que a oposição tem de garantir que a atual proposta não é apenas um "truque" ou "bluff" do primeiro-ministro. "Por outro lado, se o governo se envolver num diálogo verdadeiro e justo, podemos sair deste momento de crise mais fortes e mais unidos e podemos transformar isto num momento decisivo na nossa capacidade de viver em conjunto", indicou, também em comunicado. Outro líder da oposição, Benny Gantz, reagiu à decisão de Netanyahu dizendo que "mais vale tarde do que nunca", mostrando-se disponível para o diálogo.

Da parte da comunidade internacional, que tinha criticado também a reforma judicial, a sua suspensão foi igualmente bem recebida. A Casa Branca defendeu que este é "uma oportunidade para ter tempo e espaço adicional para chegar a um compromisso".

susana.f.salvador@dn.pt

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG