As autoridades ucranianas disseram ontem ter travado um ataque russo com 13 drones suicida, de fabrico iraniano, contra Kiev, numa altura em que as notícias vindas de Washington dão conta de que os norte-americanos se preparam para fornecer à Ucrânia sistemas de defesa Patriot. Há muito pedidos pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, estes são capazes de intercetar eventuais mísseis disparados por Moscovo, numa altura em que nem os EUA esperam uma pausa no conflito durante o inverno, nem o Kremlin aceita falar numa eventual "trégua" por ocasião do Natal ou Ano Novo.."Os terroristas começaram esta manhã com 13 Shaheds", disse Zelensky num vídeo partilhado nas redes sociais, referindo-se aos drones de fabrico iraniano que Moscovo tem usado. "De acordo com informações preliminares, todos os 13 foram abatidos pelos sistemas de defesa aérea ucranianos", acrescentou. Segundo o responsável pela administração militar de Kiev, Sergiy Popko, o ataque que visava as infraestruturas energéticas da capital ocorreu em duas vagas e os destroços dos drones intercetados danificaram um edifício administrativo e quatro residenciais..Os habitantes de uma das áreas atingidas disseram aos jornalistas da agência Associated Press que viram fragmentos de um drone com as palavras "Por Ryazan", em russo - nas redes sociais foram também partilhadas fotos. No início do mês, a Rússia acusou a Ucrânia de ter atacado com drones a base militar de Dyagilevo, na região Ryazan, a 460 quilómetros da fronteira ucraniana. Kiev não assumiu a responsabilidade desse ataque, que resultou na morte de três soldados..Twittertwitter1602916756925947904.Patriot.Apesar da defesa antiaérea ter funcionado ontem na capital ucraniana, Kiev continua vulnerável a possíveis ataques russos. Um cenário que poderá mudar caso se confirme que o Pentágono se prepara para enviar para o Ucrânia o sistema de defesa antiaéreo Patriot - o mais avançado do arsenal norte-americano. A luz verde deverá chegar a qualquer momento, segundo os media dos EUA..Na altura da invasão, a 24 de fevereiro, os ucranianos contavam apenas com um sistema de defesa soviético, tendo entretanto recebido também NASAMS doados pelos norte-americanos e o IRIS-T, doado pelos alemães, além dos mais tradicionais Stinger, S-300 e HAWK..O sistema Patriot completo inclui um radar, uma estação de controlo, um gerador e as baterias de quatro mísseis prontos a disparar, sendo necessárias apenas três pessoas para o acionar - apesar de normalmente precisar de 90 soldados para o operar e manter. Usado pela primeira vez em combate em 1991, na Operação Tempestade no Deserto após a invasão iraquiana do Koweit, o sistema Patriot já intercetou mais de 150 mísseis balísticos no terreno de guerra desde 2015..Os EUA têm tentado evitar o envio de armas mais modernas para a Ucrânia, temendo que isso possa levar a uma escalada por parte da Rússia - e que fosse necessário enviar militares norte-americanos para o terreno, algo que Washington rejeita totalmente fazer. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, deixou ontem claro que os sistemas Patriot serão "alvos legítimos" das Forças Armadas russas se forem enviados para a Ucrânia, recusando contudo fazer mais comentários até haver uma confirmação oficial de Washington..Peskov afastou entretanto qualquer hipótese de uma trégua nos combates durante o Natal (que os ortodoxos celebram a 7 de janeiro, tendo a igreja ucraniana optado por festejar este ano a dia 25 de dezembro para marcar distância da russa). "Ninguém apresentou qualquer proposta. Este assunto não está na agenda", disse. .Entretanto, no Vaticano, o Papa Francisco pediu uma "diminuição dos gastos" no Natal, com o objetivo de economizar e enviar doações aos ucranianos "que estão a sofrer tanto" com a guerra. "Não nos esqueçamos: o Natal, sim. Na paz com o Senhor, sim. Mas com os ucranianos no coração. Façamos este gesto concreto por eles", disse no fim da audiência geral semanal..Festas religiosas à parte, Peskov lembrou que a principal tarefa das Forças Armadas russas é "proteger" as populações das áreas ocupadas. "A operação militar especial continua", afirmou o porta-voz do Kremlin, admitindo que a situação na região de Donetsk (uma das quatro que Moscovo anexou após um referendo ilegal) é "difícil"..O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, também deixou claro que os EUA não estão à espera de uma pausa nos combates durante o Inverno. Washington acredita que a guerra vai continuar "por algum tempo" e que "não há expectativa" de que os combates possam parar nos meses mais frios. .O "corajoso povo ucraniano" e os seus representantes foram os vencedores do prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento deste ano. Zelensky participou via videoconferência na cerimónia de entrega do galardão, no Parlamento Europeu, pedindo aos presentes um minuto de silêncio em nome de todos os que morreram na guerra..No hemiciclo, em Estrasburgo, estiveram Oleksandra Matviychuk, advogada e presidente do Centro pelas Liberdades Civis (um dos três vencedores do Nobel da Paz deste ano); Yulia Pajevska, fundadora da unidade paramédica "Anjos de Taira"; Ivan Federov, presidente da câmara de Melitopol; Olekssandr Chekryhin e Stanislav Kulykivskyi, representantes dos Serviços de Emergência do Estado (SES); e Yaroslav Bozhko, do Movimento de Resistência Civil da Fita Amarela..O presidente agradeceu o prémio "em nome de todos os que lutam pela Ucrânia e pela liberdade", considerando um "dever moral" construir uma nova arquitetura de segurança "pela liberdade global e a lei internacional" que evite que se repita o crime que está a acontecer no seu país. Na sua intervenção, Zelensky voltou a pedir a criação de um tribunal para julgar os crimes de guerra russos, defendendo que este comece a trabalhar de imediato - e não apenas no final do conflito. "É preciso torná-lo realidade assim que possível", disse..O Ministério do Interior ucraniano indicou que, desde o início da invasão, "os investigadores da Polícia Nacional abriram 48 370 processos criminais por atos criminosos cometidos em território ucraniano por membros das Forças Armadas da Rússia e pelos seus cúmplices". Destes, 36 870 são "violações das leis e normas de guerra" e 9128 são "atos contra a integridade territorial e contra a inviolabilidade da Ucrânia". Há ainda 2187 processos por "atividades colaborativas", 100 por "traição" e 37 por "atos de subversão"..Zelensky insistiu ainda que o seu país irá eventualmente vencer a guerra contra a Rússia e esmagar as ambições do presidente russo, Vladimir Putin. "Vamos vencer, para que não haja tentativas de aplicar, novamente, a política genocida contra o novo povo, tanto na Ucrânia como através da Europa", acrescentou o presidente ucraniano. .A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, destacou a coragem e os sacrifícios do povo ucraniano: "A mensagem da Europa foi clara: nós estamos com a Ucrânia. Não vamos olhar para o outro lado. O povo ucraniano não só está a lutar uma guerra pela independência, mas uma guerra de valores. Os valores subjacentes à nossa vida na União Europeia, que assumimos como um dado adquirido." Este é o segundo ano que a Rússia é o alvo do prémio Sakharov - em 2021 foi entregue ao opositor russo detido Alexei Navalny..susana.f.salvador@dn.pt