Kiev já pensa na "batalha decisiva" da primavera

Enquanto Bakhmut é atacada de três direções, as forças ucranianas acreditam poder vencer os russos nos próximos meses.
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As forças russas estão a atacar Bakhmut de três direções numa tentativa de cercar as tropas ucranianas e de manter a pressão sobre a destruída cidade na região do Donbass que se tornou o ponto central da ofensiva de Moscovo e onde, segundo o ministro da Defesa da Ucrânia, todos os dias os invasores contabilizam até 500 baixas. Mas enquanto os russos concentram todo o seu esforço numa linha que vai de Kremina até Vuhledar, os ucranianos estão a estudar a contraofensiva e acreditam que em breve se desenrolará uma "batalha decisiva".

"O adversário continua as suas tentativas de cercar a cidade de Bakhmut", afirmou o Estado-Maior das forças armadas ucranianas. Resultado dessas ações, o grupo de mercenários Wagner anunciou ter tomado o controlo da estação ferroviária de Stupki, a norte da cidade. Um avanço com enormes custos, a crer no ministro da Defesa Oleksii Reznikov: "As perdas russas ascendem a 500 mortos e feridos todos os dias", disse ao jornal alemão Bild.

A batalha por Bakhmut começou no início de agosto e os soldados ucranianos têm resistido mesmo com as forças russas a capturarem de forma gradual o território circundante e quase cortando o acesso à cidade. Para o ex-chefe do Estado-Maior britânico Richard Dannatt, a cidade cumpriu a sua função de suster o avanço russo à custa de muitas perdas dos invasores, pelo que "faz todo o sentido" que os ucranianos se retirem agora para uma linha mais protegida.

Kiev quer iniciar uma contraofensiva nas próximas semanas para recuperar território, embora para isso se tornar realidade terá de contar, pelo menos em parte, com os carros de combate e outros veículos blindados prometidos pelos países aliados. No sábado, o embaixador ucraniano em Londres, Vadym Prystaiko, revelou que os britânicos vão duplicar o número de tanques Challenger 2 a enviar, de 14 para 28.

Em entrevista ao USA Today, o chefe dos serviços secretos militares da Ucrânia previu "uma batalha decisiva nesta primavera, e esta batalha será a última antes do fim desta guerra". Kyrylo Budanov disse ainda que "se os militares russos falharem os seus objetivos nesta primavera, ficarão sem recursos militares".

Em declarações à Sky News, Dannatt também acredita na hipótese de a Ucrânia obter um resultado decisivo no campo de batalha nos próximos meses. "Não é necessário derrotar um exército exaustivamente e em toda a parte no campo de batalha. Só é preciso convencer soldados suficientes de que perderam, e quando pensam que perderam, perderam", explicou o general britânico, que não vê nesse caso grande futuro para o líder russo. "Se o seu exército se desmoronar e fugir, então penso que é bastante provável que ele também seja varrido para fora do Kremlin."

Entretanto, do lado ucraniano diz-se outra vez que há tropas russas que se recusam a combater. Desta feita, segundo o Estado-Maior das forças armadas ucranianas, desenrola-se um conflito na liderança militar da Rússia devido a perdas significativas de homens e equipamento e à falta de vitórias na linha da frente.

Em fevereiro, o presidente Vladimir Putin promoveu o comandante do distrito militar oriental Rustam Muradov ao posto de coronel general, isto apesar da batalha de tanques que comandou em Vuhledar, e na qual os russos terão perdido dezenas de carros de combate e outros veículos blindados. Ao que dizem os ucranianos, o ministro da Defeso Sergei Shoigu exige que o general capture a cidade a qualquer custo, o que não está a cair bem entre as fileiras de soldados.

"De acordo com as informações disponíveis, o comando da brigada e os soldados recusam-se a entrar mais uma vez numa ofensiva sem sentido, o que a liderança incompetente os ordena a fazer, invadindo as posições bem fortificadas das Forças Armadas Ucranianas sem qualquer apoio ou preparação", disse o Estado-Maior General.

cesar.avo@dn.pt

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