Pelo segundo dia consecutivo foram registadas explosões numa base aérea russa, desta vez numa região próximo da fronteira com a Ucrânia, levantando dúvidas sobre a capacidade de defesa da Rússia perante aquilo que alega terem sido ataques com drones ucranianos. Kiev não admite a responsabilidade, mas após os ataques de segunda-feira contra bases a mais de 600 quilómetros da linha da frente, os olhos estão voltados para os aparelhos com um alegado alcance de mil quilómetros que estará a desenvolver. Do outro lado desta guerra de drones, há semanas que Moscovo não utiliza nos bombardeamentos os seus aparelhos suicidas (de fabrico iraniano), com a Ucrânia a dizer que estes não estão preparados para voar com o frio..Após os ataques contra as bases de Engels-2 e Dyagilevo, as autoridades russas alegaram que os ucranianos usaram drones "soviéticos" adaptados - supostamente Tupolev Tu-141 Strizh ou Tupolev Tu-143 Reys de reconhecimento, inicialmente produzidos na década de 1970. Os mesmos já teriam sido usados noutros ataques em julho, mais próximo da fronteira..Esta versão estaria equipada com explosivos, com os russos a dizerem que intercetaram os drones, cujos destroços atingiram ainda assim dois aviões e causaram a morte de três soldados. No ataque de ontem, foi atingido um tanque de combustível numa base na região de Kursk (a cerca de 280 quilómetros da Ucrânia). O governador Roman Starovoyot disse não ter havido vítimas..Apesar de os russos alegarem que os drones são de fabrico "soviético", ainda no domingo a empresa de armas ucraniana Ukroboronprom tinha dito ter concluído com sucesso os testes aos seus novos drones de combate com um alcance de mil quilómetros - não se sabendo se estes já estarão prontos e terão sido utilizados. .A 17 de outubro, no Facebook, a empresa tinha divulgado imagens do corpo deste novo drone, alegando que, além desse alcance, pesava 75 quilos. Mais de um mês depois, a 24 de novembro, indicava que ia começar os testes de voo, seguindo as instruções do chefe do Estado-maior. Na imagem partilhada via-se escrito "az vozdam", que significa "eu vou retribuir". A última fase de testes seria a capacidade de passar pelos sistemas de defesa russos, nomeadamente os ambientes de interferência de guerra eletrónica..Ontem, o presidente russo, Vladimir Putin, presidiu a uma reunião do seu Conselho de Segurança para discutir os últimos ataques. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Moscovo está a tomar as medidas "necessárias" para proteger o país dos ataques ucranianos, avisando para o "fator de perigo" de Kiev continuar com estes "ataques terroristas"..Desde a invasão que ambos os lados têm usado drones, tanto com o objetivo de reconhecimento e vigilância, como também de ataque. Uma canção foi mesmo escrita em homenagem aos turcos Bayraktar TB2, que foram um sucesso na destruição de alvos russos no início da guerra - entretanto revelaram os seus problemas, nomeadamente o facto de serem ruidosos, lentos e facilmente detetados..Do lado de Moscovo, têm sido usados drones de fabrico iraniano Shahed 136 - rebatizados Geran-2 pelos russos. Especialmente desde outubro foram usados em ataques múltiplos, nomeadamente contra a capital e contra infraestruturas elétricas. Têm um alcance de 2500 quilómetros e são normalmente lançados em grupos de cinco, como uma espécie de enxame..Rússia e Irão negaram inicialmente qualquer cooperação ao nível de armamento, com Teerão a admitir mais tarde ter enviado armas a Moscovo, mas antes do início da guerra. Os drones já estarão a ser montados em território russo, onde são também rebatizados de forma a ocultar a sua verdadeira proveniência..Mas nas últimas semanas não têm sido usados. Segundo disse um responsável ucraniano a uma agência de notícias local, não conseguem funcionar devido ao frio. Os drones iranianos serão feitos de plástico e outros materiais que não são adaptados ao gelo. Desde dia 17 de novembro, o primeiro dia em que nevou na Ucrânia este ano, não terão sido mais usados, de acordo com a mesma fonte..O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, esteve ontem na cidade de Sloviansk, em Donetsk, a cerca de 40 km de Bakhmut, principal frente de batalha da região do Donbass. Frente ao letreiro com o nome da cidade, aproveitou para gravar uma mensagem para as redes sociais de homenagem aos soldados ucranianos, naquele que era o Dia das Forças Armadas. "O leste da Ucrânia é atualmente a frente mais difícil", afirmou Zelensky, dizendo-se "honrado" por estar ali com as forças ucranianas no Donbass. O presidente disse esperar que, para o ano, possa celebrar este dia "sob um céu pacífico" em Kiev. Os russos controlam parte das regiões de Donetsk e Lugansk desde 2014, tendo Sloviansk chegado a ficar nas mãos russas nessa altura, até ser recuperada pelos ucranianos..susana.f.salvador@dn.pt