Entre aliados, Zelensky passa por território minado

A poucos dias da cimeira da NATO, o presidente ucraniano procura reforçar apoios para a possível adesão à aliança, nem que para tal se envolva em duelos verbais.
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Volodymyr Zelensky é esperado hoje em Istambul depois de na véspera ter estado em Sófia e em Praga. Uma viagem para tentar obter apoios nas pretensões de Kiev no seu futuro na NATO, bem como em assegurar mais armamento, e ainda tentar renovar o acordo de cereais no Mar Negro. Uma viagem a países aliados, mas cada qual com as suas particularidades, como ficou registado na azeda troca de argumentos entre o presidente ucraniano e o homólogo búlgaro.

Na quarta-feira à noite, em entrevista transmitida na CNN, o presidente ucraniano voltou a agradecer a ajuda internacional e ao mesmo tempo lamentou a demora da entrega de armamento, motivo pelo qual a contraofensiva demorou a arrancar e não vai ao ritmo que desejava porque entretanto o território ocupado está minado e com mais linhas defensivas. "Em algumas direções não podemos sequer pensar em iniciá-la, porque não temos as armas necessárias. E enviar os nossos homens para serem mortos por armas russas de longo alcance seria simplesmente desumano", afirmou.

Horas depois, Zelensky foi recebido por um governo búlgaro que pretende pôr fim às hesitações do país e municiar diretamente Kiev. Até agora a indústria de armamento reparava material pesado ucraniano e produzia munições compatíveis com o equipamento da era soviética, mas para países terceiros, que depois reexportavam para a Ucrânia.

O país balcânico terá entrado, ao fim de cinco eleições parlamentares em dois anos, numa solução estável. O novo governo de coligação entre formações centristas de centro-direita assume-se como europeísta e assenta na rotatividade da sua chefia. Quem recebeu Zelensky no aeroporto foi Mariya Gabriel, ministra dos Negócios Estrangeiros e futura primeira-ministra dentro de nove meses. Depois, o presidente ucraniano reuniu-se com o atual chefe de governo, Nikolay Denkov, o qual assinou uma declaração de apoio à integração da Ucrânia na NATO, "assim que as condições o permitam". É o 22.º país a formalizar o apoio.

Antes de partir para a República Checa - segundo as sondagens, os seus cidadãos estão cada vez mais divididos sobre o apoio aos refugiados e à integração ucraniana -, onde foi recebido pelo seu grande aliado Petr Pavel, Zelensky teve ainda oportunidade para uma acalorada troca de palavras com o presidente búlgaro.

Rumen Radev, que no passado se mostrou contra as sanções à Rússia pela anexação da Crimeia, opôs-se à transferência de armamento para a Ucrânia, até porque "o conflito não tem solução militar" e "mais e mais armas não vão resolver".

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Os búlgaros assistiram em direto à resposta do líder ucraniano. "Deus queira que não vos aconteça uma tragédia e que esteja no meu lugar. E se as pessoas que partilham os mesmos valores não ajudarem, o que é que vocês vão fazer? Diria: Putin, por favor, apodera-te do território búlgaro? Não, o senhor, como verdadeiro presidente, tenho a certeza que não permitiria uma cedência à independência." E antes de Radev ter pedido para a emissão ser cortada: "Não se pode apoiar a Rússia e apoiar uma posição de equilíbrio, porque a Rússia quer destruir a NATO, quer destruir a Europa e a União Europeia; são estes os seus objetivos. Está a perceber?".

cesar.avo@dn.pt

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