Como os comandos ucranianos preparam o combate em Bakhmut

Forças especiais ucranianas tentam impedir tropas de Moscovo e o grupo mercenário russo Wagner de completar o cerco em torno de Bakhmut, o centro da batalha mais longa e sangrenta desde a invasão russa da Ucrânia.
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Agachado numa pequena floresta, o líder de uma unidade de comando ucraniana informa as suas tropas antes da missão de combater a ofensiva russa sobre a cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia.

As forças especiais ucranianas visam defender a aldeia vizinha de Grygorivka, na região de Donetsk, cerca de 10 quilómetros a noroeste de Bakhmut, que está sob forte bombardeamento russo.

Se as tropas de Moscovo e o grupo mercenário russo Wagner tomarem a aldeia, isso ajudá-los-á a cerrar o cerco em torno de Bakhmut, o centro da batalha mais longa e sangrenta desde a invasão russa da Ucrânia, há mais de um ano.

"Estamos a defender posições nas colinas perto da aldeia. A nossa missão é deter o ataque inimigo e fornecer apoio de artilharia à nossa infantaria", disse à AFP o chefe do comando, que não quis identificar-se.

Vestindo cagoules (anoraks com capuz) e capacetes e carregando pequenas mochilas de camuflagem, as tropas de elite estão armadas com armas de assalto TAR-21 - um arma israelita fabricada sob licença na Ucrânia.

Quase não há silêncio que dure mais de 10 segundos perto de Bakhmut. A artilharia ucraniana e as poderosas batidas de bombardeamentos russos ressoam constantemente.

Apenas alguns quilómetros a oeste de Grygorivka, perto da linha de frente, as forças ucranianas "repeliram inúmeros ataques inimigos" nas aldeias de Orikhovo-Vasylivka e Bogdanivka, disse o Estado-Maior da Ucrânia na manhã desta quinta-feira.

"A situação é difícil, mas estamos no controlo", disse o chefe do comando, de 45 anos, durante uma pausa entre os projéteis que explodem a algumas centenas de metros de distância. "Temos condições de lutar, com certeza, mas o inimigo leva sempre vantagem em termos de artilharia. Estamos a sofrer perdas por causa disso. Por isso estamos a ter que recuar, mas às vezes também avançamos, ", diz o oficial.

"Eles estão a tentar capturar Bogdanivka, depois Chasiv Yar, para fechar o cerco em torno de Bakhmut", acrescenta.

Chasiv Yar, uma pequena cidade imediatamente a oeste de Bakhmut, também está agora sob ameaça das forças russas.

Nesta semana, foram disparadas munições de fósforo branco contra Chasiv Yar a partir de posições russas, incendiando a vegetação numa área desabitada.

No início de janeiro, as forças russas cortaram a estrada que liga Bakhmut a Sloviansk - um grande centro regional perto da cidade de Kramatorsk - e a frente estabilizou-se desde então.

Na pequena cidade de Pryvillya, a cerca de dois quilómetros da frente, um soldado que se identifica como "Romeo" e comanda um posto ucraniano assegura: "Estamos a manter esta posição". Os russos "estão a pressionar há cerca de uma semana. Eles estão a avançar para Bakhmut. Essa é a prioridade deles", diz à AFP.

Aqui, a artilharia é mais silenciosa e a principal atividade são os drones. Max, de 40 anos, um operador de drone apelidado de "Aerobomber", está sentado sozinho no seu camião junto à estrada, segurando um controlo remoto, com os olhos grudados num ecrã.

Ele acaba de lançar um pequeno drone carregado com uma granada de mão. O drone está a voar em direção a uma floresta a cerca de seis quilómetros das posições russas.

No ecrã, a paisagem abaixo é claramente visível. O drone chega à floresta e paira a cerca de 20 metros (65 pés) acima do solo. Mas perto do objetivo, Max perde o controlo. O drone deixa cair a granada e erra.

Os russos "estão alvejar o drone, para cortar o sinal entre o drone e o controle remoto", diz.
"Quando o drone perde o controlo, ele desce e eles atiram sobre ele", explica o operador, depois de conseguir recuperar o seu drone com arranhões de balas.

Max conta que perdeu três drones no dia anterior, totalizando 62 desde o início da invasão. "A Rússia está a preparar-se para esta guerra há muito tempo e desenvolveu as suas tropas de guerra eletrónica", diz "Zyma", chefe de uma unidade de operadores de drones no sul da Ucrânia. "Os russos usam várias técnicas para abafar o sinal do drone ou criar um sinal falso que o desvie", diz.

"Cada um de nós faz o que pode, onde pode. Cada um tenta ser o mais eficaz possível. Esta tecnologia permite-nos estabelecer metas: (matar) 10 Orcs (russos) por dia", diz o "Aerobomber".

"Sinto-me bem, porque vejo os resultados do meu trabalho. Consigo utilizar o meu tempo e as munições de forma muito eficiente. Isso deixa-me feliz", acrescenta.

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