Com a Finlândia a bordo, agora a prioridade da NATO é a Suécia

Ministro finlandês não perdeu um segundo e entregou a ratificação para a adesão sueca. Kremlin queixa-se de "violação da segurança da Rússia" e que irá tomar medidas em resposta.
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Num dia marcado pelas cerimónias e pelo simbolismo da entrada da Finlândia como 31.º estado parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte, o ministro dos Negócios Estrangeiros daquele país, Pekka Haavisto, demonstrou o sentido prático dos nórdicos.

Ao fazer a deposição dos instrumentos de adesão ao Departamento de Estado norte-americano - o tratado assinado em Washington há 74 anos e as subsequentes ratificações estão à guarda do governo dos EUA - na pessoa do secretário Antony Blinken, ou seja, no exato momento em que formalmente o seu país passou a membro de pleno direito, o finlandês fez o primeiro gesto. "Uma vez que agora somos membros da NATO, temos uma tarefa muito importante. A tarefa é, na verdade, dar-vos em depósito também a nossa ratificação para a adesão da Suécia. Este é o nosso primeiro ato como estado-membro", declarou ao homólogo norte-americano, junto do secretário-geral da NATO Jens Stoltenberg.

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Antes de os hinos da Finlândia e da Aliança Atlântica terem sido ouvidos e a bandeira branca e azul ter sido içada entre a tricolor francesa e a tricolor estónia sob o olhar dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 31 países e do presidente Sauli Niinisto, este não se esqueceu da vizinha Suécia, que iniciou o processo de adesão na mesma altura, maio do ano passado, mas que ainda aguarda a ratificação dos parlamentos da Hungria e da Turquia.

"Temos vindo a trabalhar em conjunto com a Suécia, continuamos a ajudá-los na medida do possível. Tenho discutido com o presidente Erdogan e tenho uma perspetiva muito positiva", comentou em declarações à imprensa, ao lado do secretário-geral da NATO. Este lembrou que todos os aliados, Ancara incluída, convidaram a Finlândia e a Suécia, em primeiro lugar, e que mais recentemente, após os obstáculos levantados pelos turcos, Estocolmo "cumpriu todos os compromissos" do acordo trilateral firmado entre os países convidados e a Turquia. "Espero que possamos ter a Suécia em breve", augurou Stoltenberg.

Mas o dia era da Finlândia. No breve discurso de boas-vindas, o dirigente norueguês mostrou-se orgulhoso por acolher o mais recente aderente e elogiou as suas capacidades. "A Finlândia traz forças consideráveis e altamente capazes, experiência em resiliência nacional e anos de experiência de trabalho lado a lado com os aliados. A Finlândia tem agora os amigos e aliados mais fortes do mundo."

Stoltenberg aproveitou para criticar o líder da Rússia. "O presidente Putin quis fechar a porta da NATO. Hoje, mostramos ao mundo que ele falhou. Que a agressão e a intimidação não funcionam. Em vez de menos NATO, ele conseguiu o oposto, mais NATO. E a nossa porta permanece firmemente aberta."

Com a Finlândia, a organização passa a ter seis países vizinhos da Federação Russa e duplica a área da fronteira, tendo em conta os 1340 quilómetros que separam os dois países. Mas para já não são esperadas grandes mudanças. "Estamos a bordo há já bastante tempo. Somos parceiros privilegiados juntamente com a Suécia, agora há mais de 10 anos. E durante esse tempo, temos vindo a desenvolver constantemente as nossas capacidades de trabalhar em conjunto com a NATO", considerou Niinisto, que não acredita numa mudança visível nem radical. "Tenho é a certeza de que os finlandeses se sentem mais seguros."

Já Stoltenberg lembrou as garantias "férreas" de segurança que o tratado confere aos membros. "Um por todos, todos por um."

A Finlândia foi um dos raros países ocidentais que não desinvestiu na defesa e na segurança. Além dos 12 mil militares profissionais, o serviço militar obrigatório forma 20 mil pessoas todos os anos. Em caso de conflito, as forças armadas estão preparadas para chamar até 280 mil cidadãos de uma vez. Além disso, Helsínquia tem fortes capacidades aéreas e de artilharia.

Enquanto líderes como o presidente dos Estados Unidos ou o chanceler alemão congratularam o mais novo aliado, o Kremlin não escondeu o desconforto, ao afirmar pelo porta-voz Dmitri Peskov que a adesão da Finlândia à NATO é um "agravamento da situação" e uma "violação da segurança da Rússia", o que forçará o seu país a tomar "contramedidas". Quais? "Serão tomadas em conformidade", assegura Peskov, depois de Moscovo observar "cuidadosamente como a NATO irá explorar o território da Finlândia em termos de colocação de armas e infraestruturas naquele país".

cesar.avo@dn.pt

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