Assembleia Geral da ONU aprova resolução a exigir retirada russa

Seis países juntaram-se a Moscovo na reprovação do documento. Ministro da Defesa britânico prevê mais um ano de conflito.
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O ministro da Defesa do Reino Unido augura que a guerra continue pelo menos mais um ano no dia em que as Nações Unidas aprovaram por larga margem uma resolução a exigir à Rússia que retire as tropas da Ucrânia.

A iniciativa diplomática, patrocinada por países que apoiam a Ucrânia, tinha como objetivo reunir o máximo de países num texto o menos controverso possível: defende a soberania e integridade territorial da Ucrânia, apela para o fim imediato dos combates, e exige que a Rússia "retire imediata, completa e incondicionalmente" as suas forças do país.

No final, em 193 países, aprovaram a resolução Princípios da Carta das Nações Unidas subjacentes a uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia 141 Estados-membros, sete votaram contra e 32 abstiveram-se. Entre os países que se abstiveram contam-se China, Índia ou África do Sul, tal como Moçambique e Angola. Na declaração de voto que antecedeu a contagem, a diplomata angolana Maria de Jesus Ferreira explicou que o seu país não concordava com o parágrafo nono da resolução. Nesse trecho, insta-se a responsabilização pelos crimes de guerra através de investigações e processos judiciais justos e independentes.

Em comparação com as anteriores resoluções sobre a guerra na Ucrânia aprovadas na Assembleia Geral, obteve o mesmo número que a primeira, datada de 2 de março, que exigia o cessar-fogo e a retirada das tropas e bastantes mais votos, 94, do que a resolução de 14 de novembro, na qual se pedia a responsabilização da Rússia, incluindo o pagamento de reparações de guerra.

Havia alguma expectativa sobre a votação, em especial no que respeita aos países do chamado sul global. A Rússia mantém laços fortes com muitos países africanos e latino-americanos, sendo Moscovo visto como o herdeiro da URSS financiadora das lutas anticoloniais. Na abertura da sessão, o secretário-geral da ONU condenou o ataque de 24 de fevereiro de 2022 contra a Ucrânia. "Essa invasão é uma afronta à nossa consciência coletiva", disse António Guterres, que chamou ao aniversário "um marco sombrio para o povo da Ucrânia e para a comunidade internacional".

"Nunca na história recente a linha entre o bem e o mal foi tão clara. Um país apenas quer viver. O outro quer matar e destruir", disse por sua vez o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba no início do debate. A resposta, do diplomata russo na ONU, Vasily Nebenzya, foi na linha do Kremlin, ao chamar a Ucrânia de "neonazi" e ao dizer que o Ocidente quer "mergulhar o mundo inteiro no abismo da guerra" para manter a hegemonia.

O ministro britânico Ben Wallace disse em entrevista à rádio LBC que dentro de um ano a guerra irá estar a desenrolar-se, porque a Rússia "demonstrou um total desrespeito, não só pela vida do povo da Ucrânia, mas também pelos seus próprios soldados", tendo estimado que 188 mil militares russos morreram ou ficaram feridos. "Quando alguém ultrapassa a linha que pensa que não há problema em fazer isso ao seu próprio povo e está a gerir eficazmente um moedor de carne para um exército, penso que ele [Putin] não vai parar".

Wallace, que foi o dirigente a criar uma coligação de países com o objetivo de prestar assistência militar à Ucrânia, que mais tarde passou a ser liderada pelo secretário da Defesa dos Estados Unidos em reuniões na base de Ramstein, disse ainda que os objetivos militares russos falharam, estando "97% do exército envolvido" e "dois terços dos tanques destruídos", pelo que na sua ótica, apesar de a guerra poder prolongar-se, "o exército russo não consegue fazer mais nada ou fazer muito mais".

cesar.avo@dn.pt

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