Depois de prender os irmãos Amarildo e Oseney Oliveira, a polícia federal do Brasil (PF) investiga nesta quinta-feira, dia 16, a participação de mais três pessoas na execução do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips no Vale do Javari, na Amazónia - um suspeito de envolvimento direto na morte, um suspeito de envolvimento na tentativa de ocultação dos cadáveres e um suspeito de ser o autor moral do crime..Na quarta-feira, dia 15, Amarildo Oliveira, conhecido como Pelado, confessou à PF ter ajudado a ocultar os corpos do ativista e do repórter, desaparecidos desde dia 5. Segundo Pelado, ele e outras pessoas decidiram matá-los depois de terem sido fotografados pelas vítimas a praticar pesca ilegal. Ele contou que Dom e Bruno foram sequestrados e mortos, depois decepados, esquartejados e queimados e, finalmente, atirados numa vala da região, cuja localização indicou em seguida. A PF encontrou, de facto, restos mortais na região, desde a tarde de quinta-feira, dia 16, sob perícia em Brasília..Uma conferência de imprensa da PF, e de outras autoridades confirmou o ocorrido..Os irmãos Amarildo e Oseney de Oliveira foram apontados por testemunhas como suspeitos por terem sido vistos a perseguir o barco do ativista e do jornalista na comunidade ribeirinha de São Gabriel, local onde Pereira e Phillips foram vistos pela última vez. Eles seguiam de São Rafael, outra comunidade ribeirinha, para a cidade de Atalaia do Norte, destino a que nunca chegariam..Bruno Araújo Pereira, brasileiro de 41 anos, trabalhava como membro da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), depois de servir na Fundação Nacional do Índio (Funai)..Dom Phillips, inglês de 57 anos, radicado no Brasil desde 2007, colaborava com o The New York Times, Washington Post, Financial Times ou The Intercept, além do The Guardian..Beatriz Matos, viúva do indigenista, reagiu no Twitter. "Agora que os espíritos do Bruno estão passeando na floresta e espalhados na gente, nossa força é muito maior..Para Alessandra Sampaio, viúva do jornalista, "este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno, agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor". "Hoje, se inicia também nossa jornada em busca por justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível", concluiu..A Univaja enviou nota onde reforçou o protagonismo dos indígenas nas buscas e sublinhou "tratar-se de um crime político", que as investigações devem prosseguir "até à completa elucidação do caso" e que é preciso garantir "segurança para os povos e seus aliados"..Ao longo das buscas, Jair Bolsonaro chamou a ida de Pereira, defensor dos direitos dos índios, e Phillips, que escrevia livro sobre o local, de "aventura" e de "excursão". Acrescentou ainda que o inglês era "mal visto na Amazónia por escrever mal dos garimpeiros"..Ao longo de quase toda a quinta-feira, dia 16, usou o Twitter apenas para opinar sobre um filme: "Top Gun Maverick é nota 10". Mais tarde mandou "sentimentos" à família..A região do Vale do Javari, onde o crime ocorreu, é conhecida por ter o maior número de indígenas em isolamento voluntário do mundo mas também, nos últimos anos, por ser uma rota de escoamento de cocaína do Peru para o Brasil. Em paralelo aos narcotraficantes, as terras vêm sendo invadidas por garimpeiros, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais, o que a torna particularmente violenta..Em 2019, o indigenista Maxsiel dos Santos foi morto a tiros em Tabatinga, cidade vizinha. A Funai relatou ainda mais oito episódios de violência na zona próxima à do desaparecimento de Pereira e Phillips. E integrantes da Univaja relataram ameaças de morte, em abril, na praça central de Atalaia do Norte, o destino dos dois. "Vai acontecer com vocês o mesmo que aconteceu com o Maxsiel", terá dito um pescador ilegal a um elemento da Univaja..Algumas das testemunhas ouvidas pela polícia falaram em ameaças também a Pereira e Phillips nos últimos dias..Pereira havia entregado à Polícia Federal e o Ministério Público Federal mapas do local de atuação e fotos dos membros de uma organização criminosa que atua na pesca e caça ilegais no Vale do Javari..Ainda antes da notícia da confissão de Osoney e Amarildo, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson pronunciou-se sobre o tema na Casa dos Comuns. Johnson disse que "como todos nesta Casa [dos Comuns], estamos profundamente preocupados com o que pode ter acontecido com ele [Dom Phillips". "Funcionários do escritório de relações exteriores estão trabalhando junto às autoridades brasileiras", avançou, reagindo a pedido de informações da ex-primeira-ministra Theresa May.."Torne o caso uma prioridade diplomática e faça todo o possível para que as autoridades brasileiras coloquem os recursos necessários para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com Dom e Bruno", pediu May.